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Enviada em: 31/10/2017

Sonho ufanista        Na obra pré-modernista “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do escritor Lima Barreto, o protagonista acredita fielmente que, se superados alguns obstáculos, o Brasil projetar-se-ia ao patamar de nação desenvolvida. Hodiernamente, é provável que o major Quaresma desejasse reduzir o poder de manipulação que as notícias falsas exercem no país. Esse cenário lamentável perdura, principalmente, pelo deficiênte cumprimento da legislação somado à ganância humana.             Em primeiro lugar, é notório que a ineficiência na aplicação das leis está na origem do problema. Conforme disse o francês Armand Richelieu, clérigo e estadista do século XVII, fazer uma lei e não velar pela sua execução é o mesmo que autorizar aquilo que se deseja proibir. Nesse sentido, a existência de leis que punam a disseminação de boatos com a intenção de prejudicar alguem ou obter lucro não é suficiente para cessar essa prática, pois enquanto o crime não implicar na certeza de punição, existirão indivíduos dispostos a cometê-lo. À vista disso, a persistência do problema evidencia a atual inabilidade dos mecanismos legais de justiça para lidar com a questão.         Além disso, a ambição desenfreada é um agente intensificador desse fenômeno. Segundo Mahatma Gandhi, na Terra há o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas não há o suficiente para satisfazer a ganância de alguns. Desse modo, pode-se observar que muitos indivíduos subvertem seus valores éticos e morais em busca do lucro que a propagação de boatos pode proporcionar. Tal aspecto, longe de ser um inato à natureza humana, é fruto do ideario vigente no Brasil contemporâneo que privilegia o consumo em detrimento da sustentabilidade.         Denota-se, portanto, que combater as Fake News constitui um sério desafio para o país. Ao Estado, na figura de Ministério da Justiça, compete verificar a veracidade das informações divulgadas na internet por meio do emprego da inteligência artificial no cruzamento dos dados, objetivando identificar os boatos e assegurar, principalmente, que seus criadores sejam punidos. Paralelamente, a população deve, mediante publicações em redes sociais, pressionar grandes empresas de anúncios – google, yahoo, taboola – para que desmonetizem sites que veiculem notícias inverídicas, com intuito de remover a lucratividade dessa pratica. Assim, com Estado e sociedade civil unindo forças em prol de um país mais justo e humano, o sonho ufanista do major Quaresma estará mais próximo de tornar-se realidade.