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Enviada em: 31/10/2017

Conforme defendeu o filósofo Pierre Lévy, a internet abre espaço para a construção de uma "inteligência coletiva da humanidade". Sob essa conjectura, é factível afirmar que a cibercultura possui grande potencial democratizante nas relações interpessoais. Entretanto, por mais que haja esse aspecto deliberativo, presencia-se, nos debates das redes sociais, uma veiculação de notícias falsas, o que problematiza o intercâmbio de informações. Logo, deve-se modificar esse cenário, para que o meio virtual se torne um instrumento de interação harmônica.        Em primeiro lugar, deve-se analisar como a sociedade age diante dessa disseminação de fatos inverídicos. O termo "pós-verdade" faz referência à primordialidade de crenças prévias das informações, independente da veracidade destas. Ao fazer uma análise do contexto atual, pode-se asseverar a existência dessa superficialidade de assimilação dos fatos, alavancada ora pelo caráter efêmero das relações da sociedade - como analisou Zygmunt Bauman-, o qual leva ao imediatismo e, portanto, ao pouco interesse por buscar fontes concretas das referências, ora pela cultura do individualismo, que faz a pessoa priorizar os dados favoráveis a seu posicionamento, mesmo que não sejam verdadeiros. Dessa forma, a "ágora virtual" presumida por Pierre Lévy torna-se dificultada por mentalidades restritas da sociedade.       Ademais, é preciso pontuar os desdobramentos dessa realidade no ciberespaço. Em um regime democrático, é imprescindível a legitimidade da construção de consensos através do ato comunicativo, como frisou Jurgen Habermas. No entanto, o fato evidenciado traz como complicação a esse aspecto a relativização dos preceitos distintos do próprio, por, muitas vezes, utilizar tais notícias manipuladas para dar credibilidade a um posicionamento político ou social. Isso é retratado, por exemplo, na divulgação de inverdades do presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, na época de eleições. Neste contexto, acarreta-se não só uma desconfiança sobre os fatos circulados nas redes virtuais, como também uma dificuldade de dialogar com as diferenças.       Tornam-se prementes, portanto, mediações de diversos segmentos da sociedade para reverter esse quadro social. Para tal fim, as ações midiáticas, influenciadoras de ideologias, devem instruir a população no que se refere a uma utilização adequada do ciberespaço, veiculando em programas de discussão e em telenovelas e as consequências do comprometimento da credibilidade das notícias, para aguçar um manuseio mais ético dos indivíduos. Outrossim, a escola pode evidenciar essa adversidade para os alunos, realizando palestras e debatendo nas aulas sobre a importância da verossimilhança na internet, para formar seres que interpretam e transformam essa realidade hodierna.