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Enviada em: 10/05/2018

Na obra machadiana Memórias Póstumas de Brás Cubas, o autor, munido de sua peculiar ironia, critica a sociedade brasileira do século XIX, a qual empreendia um culto às aparências. Mesmo hoje, tais noções de superficialidade perduram, potencializadas por uma cultura massificante que, frequentemente, atrela consumo a sucesso. Assim, urge dimensionar a carga valorativa direcionada à chamada ostentação, a fim de que seja possível diluir os excessos comuns na contemporaneidade.    Em primeiro lugar, convém analisar o apreço pelo consumo suscitado socialmente. Consoante à Theodore Adorno, predomina na modernidade a Indústria Cultural, responsável pela criação de necessidades que moldam o homem de acordo com o desejo mercadológico. Nessa perspectiva, inspirado por noções rasas de felicidade advindas da posse, o ter e o ser se confundem, de modo que as coisas são personificadas e as pessoas, coisificadas.     No entanto, cabe considerar o sentido autoafirmativo que a exibição de bens adquiriu. Durante o período Renascentista, a burguesia, então enriquecida, passa a apoiar as artes como maneira de se mostrar enquanto classe que havia ascendido. De maneira análoga, a ostentação contemporânea guarda também desejo de destacar a elevação de grupos antes marginalizados. Prova disso, o funk, estilo que muito defende o ideal em questão, tem como principais personalidades artistas de origem humilde, que valorizam seus êxitos pela exibição de possessões.    Torna-se evidente, portanto, a necessidade de melhor discutir as questões que concernem a prática de ostentação. Faz-se imperioso que o Governo Federal, representado pelo Ministério da Educação, se alie às escolas a fim  de promover debates desse nível. Para tanto, cabe disponibilizar o ensino financeiro na carga complementar, espaço didático no qual poderá ser mostrado, desde cedo, o nível de responsabilidade que envolve ganhos monetários. Devem ser apresentadas, com dinamismo e aproximação ao universo jovem, boas maneiras para dispor de ganhos, no sentido de minimizar excessos consumistas. Outrossim, famílias podem ser convidadas a participar de tais momentos, assumindo a posição de implantar, no âmbito do lar, o que será ministrado. Dessarte, pelo conhecimento, será possível dissociar posses de bem-estar social, para que seja estimulada a administração consciente das conquistas.