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Enviada em: 09/09/2018

Certa vez, uma educadora dirigiu-se à comunidade onde residia um aluno que apresentava dificuldades de aprendizagem, visando entender de onde surgiam tais problemas. Ao chegar no local notara que, em detrimento da falta de recursos básicos, havia um aparelho televisor cuidadosamente alocado em um dos poucos quartos, sobre uma pequena mesinha; no entanto, não encontrou geladeira na cozinha. Ao questionar o motivo de tal fato à mãe do aluno, essa respondeu-lhe que não possuía alimentos para guardar, todavia, era na televisão que depositava seus sonhos. Doravante, assim como no futebol, a ascensão dos MCs, cantores de funk, tornou-se projeção do sonho de jovens para adquirir fama e poder aquisitivo, estimulados pelo vislumbre de sucesso difundido pelas mídias.        A priori, a ostentação surge como fenômeno de influência direta na cultura e economia do Brasil, no início do século XXI, como reflexo do aumento do poder de compra da Classe C durante o governo Lula, devido a alta no preço das commodities no mercado mundial. Por conseguinte, os bailes funk estimulavam o comércio local e o surgimento de emprego nas regiões suburbanas, fomentando recursos inexistentes outrora àquela população, como a compra de casas e carros, bem como de roupas e calçados caros, em verossimilhança aos MCs ou aos demais artistas aclamados pelo sucesso.        A posteriori, em progressão à interpretações mais realistas, os cantores de funk levam o nome das periferias onde residem na letra das melodias, na tentativa de ressaltar a cultura dos morros. Entretanto, de acordo com o antropólogo Hermano Vianna, o processo de criminalização do ritmo, intensificado em 2008 com a chegada das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que fechavam os bailes, restringiu a ocorrência dos mesmos às áreas de domínio do tráfico, insurgindo músicas de apologia ao crime e as facções. Logo, em reconhecimento à história do fun, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro promulgou uma lei que declara o estilo como patrimônio imaterial do estado.        Tal fato fortaleceu a indústria cultural, que vende a figura de personalidades como espelho dos sonhos de outrem, em evidencia à objetificação de produtos que o transformariam em um indivíduo de sucesso. Portanto, é necessário que eventos como a Flupp (Feira Literária das Periferias), sejam incentivados por iniciativa pública e privada, para que se espalhem pelos subúrbios do Brasil e abarquem o enorme potencial artístico que é perdido pela falta de recursos financeiros. Consoante a isso, devem ser criados institutos educacionais geolocalizados nas periferias, pelas Prefeituras Municipais, em oferecimento gratuito de cursos voltados à cultura, visando o fomento dos sonhos e do conhecimento dos indivíduos residentes, para que esses não sejam alvo do crime e da desesperança.