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Enviada em: 02/08/2018

No dia primeiro de agosto de dois mil e dezoito, conforme noticiado, os recursos naturais disponíveis para esse ano foram consumidos: cinco meses antes do término. Em outras palavras, a humanidade alcançou o dia no qual usufruiu mais do que nossa casa, o planeta Terra, nos fornece. Entretanto, essa afirmação parece não chocar, ou mesmo alertar, a população. Impulsionados pela obsolência programada dos consumíveis, estamos acostumados a gerar lixo despreocupadamente, desprezando os impactos ambientais e sociais que a nossa sociedade impõe.     Ao iniciarmos nossos estudos em ciências, uma premissa bastante citada é: Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Se essa transformação for mediada pelo ser humano é certo que resultará em lixo. Porém, a sociedade contemporânea desassocia o descarte do prazer do consumo e, por conseguinte, banaliza o desperdício de matéria. Esse comportamento pode ser explicado pela teoria da filósofa Hannah Arendt que estudou casos de violência que se tornaram banalizados pela nossa sociedade, ou seja, nos acostumamos com atos de terror, ao passo que, agora, também nos acostumamos com o mal que causamos ao meio ambiente. Assim, movidos pelo "novo" - eletroeletrônico, roupa da coleção verão ou inverno, a cor do ano - jogamos fora o velho e ganhamos o atual, porque a nova data de validade é psicológica, determinada pelo uso momentâneo, uma data de validade que nunca chega para nós, mas chegou para a Terra.     Ao passo que descartamos bens, na era da personificação das coisas e coisificação das pessoas, parece razoável extrapolar a forma como nos relacionamos com as coisas à forma como construímos nossos relacionamentos. A brevidade das relações tem transformado as pessoas em bens descartáveis, uma nova obsolência programada para acompanhar a volatilidade dos nossos desejos, conforme teorizado por Sigmund Bauman em sua chamada "Modernidade Líquida". De fato, nosso lixo gera chorume, esse líquido mal cheiroso e poluente que polui a Terra e a nós.       A descrição desse quadro é desanimadora, mas precisa ser enfrentada e a saída mais efetiva é concentrar os esforços na educação formal - em escolas e universidades. O Ministério da Educação e as prefeituras municipais devem organizar palestras e campanhas sobre os impactos ambientais e o manejo adequado do lixo, bem como quais são os impactos para a geração de toda a matéria prima não-renovável. Ademais, é imperativo que com o engajamento social gerado pela informação e educação, a sociedade se articule para exigir do governo e das empresas privadas um manejo consciente dos recursos dos quais dispomos. Assim, poderemos prorrogar o dia que nunca imaginamos que poderia chegar: a nossa data de validade na Terra, o nosso trinta e um de fevereiro.