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Enviada em: 29/05/2017

Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, no início do século XIX, teve início um processo de modernização econômica, administrativa e cultural na colônia que propiciou avanços no quadro geral da sociedade. No entanto, conforme aponta a historiadora Lilian Schwarcz, os estrangeiros que visitavam o Brasil na época, relataram profundo espanto com as condições de miséria da maioria da população, algo que, dois séculos mais tarde, ainda representaria uma característica estrutural persistente.       Embora não se trate de um problema endêmico, visto que a desigualdade social vem recrudescendo nos diversos continentes, sobretudo após a última crise econômica global desencadeada a partir de 2008, há alguns aspectos que dizem respeito à sociedade brasileira e identificam o problema localmente. Trata-se de um país com enormes proporções territoriais e uma primorosa fonte de recursos naturais que, ou são subaproveitados ou não representam um benefício real e acessível para o povo, mas apenas para o Estado e uma elite privilegiada.        A concentração de terras, por exemplo, é um fator que tem raízes históricas, quando as grandes áreas cultiváveis foram arrendadas a alguns indivíduos selecionados no início da colonização. A estrutura latifundiária se estabeleceu desde então e até hoje constitui um ambiente de disputa entre os representantes do agronegócio e pequenos produtores que lutam por um pedaço de solo para prover a sua subsistência. Os últimos embates pela reforma agrária, conforme pode-se observar no noticiário, têm sido cada vez mais sangrentos.         A pobreza, todavia, identificada pelo baixo poder aquisitivo da população e pelas condições de vida que fogem dos preconizados direitos fundamentais, tais como o acesso à saúde, à educação e à moradia, não diz respeito apenas ao espaço rural. Conforme pesquisa recente do Banco Mundial, as áreas urbanas, sobretudo no sudeste brasileiro, deverão verificar nos próximos anos um aumento do número de pessoas vivendo sob condições precárias e sem perspectivas de um futuro melhor. Os adultos jovens desempregados se destacam nos índices apresentados nessa análise.        Neste sentido, a adoção de medidas de incentivo fiscal a pequenos empresários, comerciantes ou jovens que queiram iniciar algum empreendimento, seja no campo ou nas cidades, deve estar na pauta principal dos projetos de lei a serem votados nas câmaras legislativas. É preciso enxergar e investir no potencial criativo do brasileiro, papel que deve ser assumido principalmente pelo BNDES com o apoio das lideranças comunitárias e trabalhistas. Por fim, é necessária uma ação incisiva na fiscalização e redistribuição das terras improdutivas, para que destas seja possível extrair riquezas e não sangue.