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Enviada em: 23/04/2018

A realidade do ensino médio brasileiro contempla um modelo engessado e com função direcionada para a entrada na universidade. Nesse contexto, a reforma do nível médio propõe fornecer um ensino médio em período integral, com a possibilidade de cursar disciplinas técnicas ou mais direcionadas ao perfil vocacional de cada aluno. No entanto, ao passo que oferece uma maior oportunidade para os alunos conhecerem a área com maior afinidade, a reforma pode acelerar a deterioração do ensino já precário.       Em primeiro plano, a educação é um caminho fundamental para formar cidadãos mais críticos e decididos a mudar a realidade em que vivem. Esse ponto de vista defendido por Paulo Freire é reforçado pela proposta trazida na reforma, seja pela maior permanência na escola ou pelo maior leque de opções para aprofundar os conhecimentos específicos. Sob tal ótica, o estudante terá a opção de descobrir a real área de sua vocação ainda no ensino médio ou poderá optar por um contato mais rápido com o mercado de trabalho, as duas opções supracitadas propõem uma ampliação do ensino de melhor qualidade. Assim, haverá uma formação mais completa e humana, bem como, uma diminuição nos trancamentos e desistências de cursos de nível superior por motivos de não identificação.     Em segundo plano, de acordo com dados do Censo Escolar 2015, cerca de 23% das escolas públicas brasileiras com ensino médio apresentavam a infraestrutura prevista em lei. Dessa forma, é difícil imaginar como propor um ensino médio em tempo integral resolveria as lacunas educacionais, visto que o básico não engloba a grande parte dos estudantes. Tal situação precária das instituições de ensino já é denunciada em músicas como Duas de Cinco do cantor Criolo. Além disso, a crise econômica e a falta de recursos para novos investimentos a fim de adequar as escolas ao novo modelo podem promover uma defasagem e deterioração ainda maior da infraestrutura das instituições mais precárias.       Portanto, são necessárias medidas por parte das empresas privadas e das escolas em parceria com as famílias. Nessa perspectiva, as empresas privadas de cada região podem realizar parcerias com as escolas próximas, promovendo reformas nos laboratórios, salas de informática e quadras esportivas dessas instituições, em troca de estágios voluntários dos alunos do ensino médio que desejem se qualificar nesses órgãos. No tocante à escola, essa pode desenvolver ações comunitárias com as famílias dos alunos para realizarem melhorias estruturais nos espaços escolares, como também, devem estimular os debates nas aulas de ciências humanas acerca das mudanças oriundas da reforma.