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Enviada em: 25/10/2017

Após a Revolução Francesa, os ideais iluministas paulatinamente teceram a teia cultural de significativa parte do globo. Com a perspectiva do ensino universalizado de Rousseau, a educação se tornou um dos pilares das preocupações estatais. No Brasil, os obstáculos característicos do subdesenvolvimento geram instabilidades nesse campo, exigindo boa administração dos governantes. A - profunda e repentina - hodierna reforma do Ensino Médio pode ser um desvio de tais obstruções?       Apesar da Lei de diretrizes e bases da educação nacional garantir o acesso universal gratuito à educação formal, é notável a carência estrutural do oferecimento adequado desse direito, impulsionando a proliferação de instituições privadas (e consequentemente, restritivas) de ensino. No contexto de discrepância de oportunidades entre jovens do ensino público e privado, a educação se torna um amplificador das injustiças sociais, como profere o sociólogo Bordieu. No entanto, o potencial da educação para mudar o mundo - observado por Nelson Mandela - não deve ser ignorado.       Sob essa perspectiva, em um país de industrialização tardia e restrição financeira, reformas radicais no sistema educacional são necessárias, desde que coerentes com análise prévia das instituições. O período integral, ao propor encarecimento dos gastos públicos com aumento quantitativo de horas e não qualitativo de aulas, diminuirá ainda mais a já prejudicada qualidade do educação nacional, fortalecendo as instituições privadas de ensino. Dessa forma o Estado age servindo apenas à classe dominante, como pontuado por Karl Marx.       Infere-se, portanto, que há desafios para o jovem país Brasil alcançar a estabilidade do oferecimento universal do ensino como arquitetou Rousseau. Para tal, é inescusável que o Estado, a priori, dialogue com alunos, professores e pedagogos que vivenciam diretamente o contexto escolar com o fito de formular uma reforma democrática e efetiva. Outrossim, se faz necessário destinar 10% do PIB para a educação, pois esta é a melhor ferramenta de desenvolvimento econômico e social no longo prazo. Por fim, professores devem valorizar e promover o debate dentro e fora de sala de aula a fim de desenvolver criticidade nos estudantes acerca do futuro das escolas. Destarte, será possível o efetivo desvio dos obstáculos atuais, em contraste com a atual proposta de reforma do Ensino Médio.