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Enviada em: 01/05/2018

Durante a chegada dos portugueses ao Brasil, propagou-se o ideal de superioridade europeia em relação à sociedade indígena, principalmente em relação a linguagem dos povos, vista como desordenada. Não obstante, hodiernamente, sabe-se o quanto a variedade linguística consolidou a identidade brasileira. Entretanto, os preconceitos contra essa diversidade ainda permanecem no meio social, seja pela herança histórica-cultural, seja pelo prestígio social de uma linguagem culta, o que corrobora para uma sociedade que delimita de forma excludente a exuberância cultural do país.         Em uma primeira análise, deve-se considerar a herança sócio-cultural como impulsionador desse preconceito linguístico, tendo em vista que priorizou somente uma língua padrão oficial. De acordo com o sociólogo Pierre Bourdieu, a sociedade incorpora, naturaliza e reproduz modelos e padrões impostos a sua realidade. Partindo desse raciocínio, o ensino educacional tradicional, por representar um papel social fundamental no desenvolvimento dos indivíduos, muitas vezes, prioriza somente a noção correta de uma linguagem padrão da gramática normativa, corroborando, dessa maneira, para que outras variantes sejam desconsideradas, isto é, excluídas.      Outrossim, é factível que a ligação indissolúvel entre a língua falada e a gramática normativa estejam entre os obstáculos do preconceito na sociedade. Essa realidade é observada nos meios midiáticos, quando criticam ou até mesmo ridicularizam certas falas que não estão em concordância com a norma gramatical, repercutindo, dessa forma, no "prestígio social" de um padrão linguístico distante da realidade social do país. Nesse âmbito, tal ligação torna-se equivocada, uma vez que não leva em consideração a variação histórica, geográfica, e social de um povo, já que toda variedade linguística atende às necessidades da comunidade de seres humanos que a empregam, evidenciado, por exemplo, na conservação cultural dos povos indígenas por meio da transmissão oral.     É imperativo, portanto, a execução de mecanismos que flexibilizem o reconhecimento da multiplicidade linguística do nosso país. Assim, cabe ao Ministério da Educação basear-se nos princípios de Paulo Freire, com uma educação alicerçada na práxis e na humanização, a partir da inserção de matérias que abordem as diferentes variedades linguísticas do país, a fim de formar cidadãos éticos que entendam as diversidades da nação. Concomitantemente, cabe aos sistemas de comunicação, dissociar-se do preconceito em seus meios, por meio da aceitação cultural da língua, de forma a divulgar em seus veículos trechos de obras literárias como a de Guimarães Rosa, mostrando à população a riqueza dessas variantes. Posto isso, poder-se-á obter uma nação miscigenada intelectualmente e aspirante da diversidade cultural e humanizada de seus povos.