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Enviada em: 12/08/2018

No clássico “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, o protagonista almejava tornar o tupi a nova língua brasileira em detrimento do português posto que o tupi era a criação de povos que no Brasil viveram. Hodiernamente, alguns grupos sociais veem como superior a chamada norma “culta” do português às variações da língua nacional. Nesse contexto, deve-se analisar como a herança histórico-cultural e os métodos de ensino influenciam na problemática em questão.     A herança histórico-cultural é a principal responsável pela manutenção do preconceito linguístico. Isso decorre da imposição do português no processo de colonização do Brasil, que resultou no despontar de atitudes linguísticas hierarquizantes. A sociedade, então, por tender a incorporar as estruturas sociais de sua época, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bordieu, naturalizou o pensamento e passou a reproduzir a ideia de que o idioma lusitano é o superior. Tal fato foi reforçado pelo Diretório pombalino, com a determinação da obrigatoriedade do uso do português conforme os moldes gramaticais vigentes na época e a proibição do uso do guarani. Por consequência disso, essa forma de intolerância foi enraizada na cultura brasileira.     Ademais, a metodologia utilizada nas instituições de ensino também é responsável pela discriminação com as variações linguísticas. Isso acontece porque, com a crença de que há uma unidade linguística, a escola tenta impor a norma padrão como se fosse a língua comum a todos os brasileiros. Segundo o linguista Marco Bagno, o conhecimento da gramática normativa é utilizado como instrumento de distinção e de dominação pela população culta. Tal fato é observado quando pessoas falantes das variedades desprestigiadas, por exemplo, não usufruem de seus direitos plenamente por não compreender a linguagem empregada pelos órgãos públicos. Em virtude disso, grande parcela da população é marginalizada por não deter domínio da norma gramatical.    Torna-se evidente, portanto, ser necessário o combate do preconceito com as variações do português. Em razão disso, o Ministério da Educação, em parceria com os pedagogos, deve implementar o ensino das variedades linguísticas de forma mais aprofundada na grade curricular dos ensinos infantil, fundamental e médio por meio da instrução de professores para ensinar sobre essas variações a fim de impedir o desenvolvimento e a potencialização do preconceito. Outrossim, é essencial a criação de um órgão publico que vise auxiliar pessoas que não tenham domínio da norma utilizada em documentos oficiais. Para que, assim, a língua popular brasileira seja reconhecida da mesma forma como o tupi foi por Policarpo Quaresma.