No romance de Machado de Assis "Memórias póstumas" o autor-defunto Brás Cubas disse que, não teve filhos e não transmitiu a nenhuma criatura o legado da nossa miséria. Acaso, ele estivesse certo em sua decisão, afinal é implausível que em pleno século XXI, em um país em desenvolvimento, a exiguidade de aceitação em relação às díspares linguagens regionais ainda seja assíduo na sociedade hodierna e com isso, surge a problemática do preconceito linguístico que está intrinsecamente ligado a uma tortura moral, na qual suprime a identidade de um ser humano causando a sua descensão social. Mormente, para Zygmunt Bauman, em sua obra "Modernidade Líquida", ele defende a ideia de que a modernidade é formada pelo individualismo, logo, é notório que a língua é responsável pela formação individual de uma pessoa, sendo assim, é incontestável que a sociedade encontra dificuldade em respeitar às divergentes formas de comunicação, e com isso, agem de maneira hostil sobretudo em relação a grupos de menos prestígio na escala social ou a comunidades de área rural. Historicamente, isso ocorre advindo do sentimento de superioridade dos grupos vistos como apaniguados, como também, da forma como a linguagem culta é ensinada nas escolas, posto que, a gramática normativa é aplicada de forma autoritária e repressiva que impera na ideologia, desse modo, é considerada muitas vezes como ininteligível por grande parte dos estudantes. Convém mencionar, que embora o Brasil seja derivado da língua portuguesa, ela apresenta diversas peculiaridades regionais, tendo em vista que, cada região possui um sotaque e um linguajar que é impugnado muitas vezes por grupos de outras regiões, ou até mesmo, por pessoas da própria localidade. Isso ocorre, maiormente entre pessoas que vivem na capital e usam palavras pejorativas para determinar as pessoas que vivem no interior, criando um estereótipo e a exclusão social da população rural, e através disso, se cria uma mentalidade preconceituosa que está enraizada e transmitida ao longo das gerações, porquanto, conforme Émile Durkheim, o meio social determina as atitudes do indivíduo. Sobre essa ótica, depreende-se, que as variações linguísticas devem ser consideradas como um valor cultural e não como um problema. Portanto, para mitigar esse revés, é preciso que o Governo Federal crie ações midiáticas a fim de exalçar as heterogeneidades linguísticas e a importância da sua aceitação. Ademais, o Ministério de Educação deve incluir no ensino gramatical, a instrução sobre a linguagem popular para que os alunos entendem a norma culta e suas variantes e se tornem conhecedores amplos da língua a qual ele é portador, induzindo-o assim, à uma maior ascensão social e o respeito as diferenças existentes quebrando os tabus enraizados acerca da forma padrão da língua.