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Enviada em: 04/08/2018

No livro 'Concepções de linguagem e ensino de Português', João Geraldi pontua que uma variedade linguística vale o que valem na sociedade os seus falantes. Dessa maneira, é possível observar como no Brasil o preconceito linguístico entrelaça-se com as questões políticas e sociais do país, já que as raízes históricas de desigualdade social e a disparidade do acesso ao capital cultural erudito implicam na estigmatização das variações do idioma e de seus respectivos falantes.    No Brasil do século XIX, terra era sinônimo de riqueza e status. Com a Lei de Terras (1850), a posse de propriedade passa a ser possível apenas pela compra, estabelecendo a concentração de renda e fundiária que se estende até os dias atuais. A partir disso, cria-se uma estrutura de dois grupos sociais: um de alta e um de baixa renda, que têm acesso a capital econômico e cultural muito dissemelhantes. E, muitas vezes, por essa diferença socioeconômica, as práticas culturais cotidianas da classe menos abastada, mediante a ótica opulenta, começam a serem consideradas erradas, entre uma delas, a variação linguística.     Assim, inclusive nos programas das grandes emissoras de TV, os personagens de regiões mais pobres têm suas falas altamente caricaturadas, caracterizando-as com um tom pejorativo de deboche, como Nerso da Capitinga, da 'Escolinha do Professor Raimundo'. Diante disso, o quadro de preconceito linguístico nacional agrava-se, mantendo a exclusão social desses falantes e a desvalorização de sua cultura, impedindo-os de contribuir para a diversidade cultural do Brasil e cerceando sua liberdade de expressão, a medida que o preconceito conserva a ideia do comportamento linguístico de uma classe, apenas, ser o certo, e somente ele ganhar espaço na mídia, valorização e investimento culturais. No entanto, não cabe estabelecer uma variação linguística como correta, e sim, adequar o contexto e a finalidade em que a norma padrão e a forma de linguagem popular devem ser  empregadas.      Destarte, é necessário que o Ministério da Educação promova fins de semana culturais na urbe e nas escolas, por meio das verbas dos impostos dos cidadãos, com palestras ministradas por linguistas, sociólogos e historiadores, a fim de desestigmatizar o preconceito acerca das mais diversas variações da Língua Portuguesa e de todos os resquícios históricos que o permeiam, para garantir a não exclusão dos indivíduos falantes de uma língua senão a padrão e/ou considerada erudita. A partir dessas ações, espera-se que não haja mais uma flexão considerada correta, mas várias, valorizando a expressão cultural de todos, sem restrições.