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Enviada em: 09/07/2018

O autor modernista João Cabral de Melo Neto escreveu a obra "Morte e Vida Severina", na qual valorizou os falares regionais e sociais marginalizados. No entanto, o projeto do escritor ainda não se concretizou na sociedade brasileira, visto que o preconceito linguístico se faz presente, figurando como um problema historicamente construído que deve ser, urgentemente, desmantelado pelos cidadãos e pelo Estado.              Mormente, é válido analisar a construção e a consolidação do preconceito linguístico no país. Esse problema está vinculado ao Parnasianismo, estética literária que prestigiava a perfeição formal do texto e que ganhou muitos admiradores no Brasil. Por conseguinte, a capacidade de falar e escrever de forma perfeita tornou-se um critério de diferenciação social, e os indivíduos que não se adequavam aos padrões estabelecidos eram menosprezados. Atualmente, esse menosprezo se manifesta na formação de estereótipos que se evidenciam por exemplo, nas piadas, em consonância com a ideia de que "o riso é capaz de desconstruir um grupo marginalizado e reafirmar o preconceito", do filósofo Mikhail Bakhtin. Com efeito, atribui-se um caráter lúdico aos falares de certos grupos - sobretudo nordestinos -, o que perpetua o preconceito.                 Em segunda análise, é cabível destacar que o preconceito linguístico fere os direitos humanos das vítimas. Nesse prisma, a ofensa e a discriminação de um indivíduo por motivos linguísticos vai de encontro ao princípio da dignidade, previsto pela Declaração dos Direitos Humanos, de 1948. Assim, a persistência desse tipo de preconceito é um entrave à consolidação de uma sociedade mais justa, além de ser incoerente diante da diversidade cultural existente na nação.            Fica claro, portanto, que medidas são necessárias para mitigar o preconceito linguístico persistente no Brasil. Cabe aos cidadãos repudiar a discriminação através de debates nas redes sociais, visando à desconstrução de estereótipos. Ademais, é papel do Ministério Público facilitar a denúncia de discriminações linguísticas por meio da criação, nas delegacias de Polícia Civil, de centros especializados nesse assunto. Com essas ações, será possível vislumbrar uma sociedade que valorize as variedades linguísticas, como propunha João Cabral de Melo Neto.