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Enviada em: 01/08/2018

Durante o processo colonizador no Brasil, uma das estratégias utilizadas pelos colonos para estabelecer seu domínio foi a imposição da língua portuguesa aos nativos. Hodiernamente, embora tenham se passado mais de quinhentos anos desde o início da colonização, essa herança eurocêntrica resiste no país. Esse aspecto, sustentado pela supervalorização da forma elitista de linguagem em detrimento das demais, corrobora a segregação linguística e acarreta a desconfiguração de uma identidade nacional multicultural.         A priori, ressalta-se que a vinculação da normal culta da fala a prestígio social é responsável pela geração de um processo de segregação linguística que opõe as classes abastadas às demais. Nesse contexto, cria-se um cenário cultismo intelectual que se sobrepõe à sociedade brasileira, aspecto observado na formulação didática nacional de Linguagens e Códigos que relaciona a normal culta de fala e escrita à característica de “belo”. Contudo, sabe-se que o dinamismo é um aspecto inerente às formas de linguagens e, portanto, variações originadas ao longo do tempo não descaracterizam sua função social e não afetam sua funcionalidade comunicativa, fato que invalida a tentativa de imposição de uma forma correta de falar unilateral.          Ademais, a persistência do preconceito linguístico no Brasil pode ser responsável por um processo de aculturação no que tange ao modo de falar de determinados grupos regionais. Nessa conjuntura, depreende-se que a imposição da normal culta desconsidera uma composição identitária nacional baseada em multiculturalidades linguísticas e fere o livre exercício de hábitos e costumes — assegurado pela Constituição Federal de 1988. Nesse ínterim, segundo o princípio da ação comunicativa do sociólogo alemão Jurgen Habermas, a ampliação dos debates acerca das causas e efeitos desse preconceito é primordial para a superação da problemática.        Urge, portanto, que ações sejam tomadas para retificar o impasse das variações de linguagens no Brasil. Mormente, compete ao Ministério da Educação, responsável pela elaboração de políticas escolares, optar pela escolha de materiais didáticos que contemplem a análise das variedades de fala brasileiras, com o fito de mitigar o ideário de unilateralidade de expressão adequada da língua portuguesa brasileira. Paralelamente, compete ao Ministério da Educação, consoante aos meios de comunicação, veicular campanhas de valorização da diversidade linguística brasileira, a fim de criar uma mentalidade social multicultural e, assim, reduzir a supervalorização da normal elitista de falar. Desse modo, talvez seja possível resolucionar o problema do preconceito linguístico no Brasil.