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Enviada em: 05/08/2018

De acordo com o psiquiatra e escritor Augusto Cury, a discriminação demora horas para ser construída, mas séculos para ser destruída. Por isso, mesmo o Brasil sendo caracterizado por sua pluralidade cultural, tanto de linguagens como de hábitos e costumes, observa-se, infelizmente, comportamentos hostis com certas variedades linguísticas existentes em sua sociedade. Sob esse aspecto, é válido identificar os impactos dessa problemática para a coletividade, bem como propor possíveis ações atenuadoras para ela.      A discriminação linguística, a princípio, acontece, muitas vezes, por parte de instituições e classes sociais de maior prestígio, ocasionando, dessa forma, a exclusão dos indivíduos não detentores de poder e status. Nessa conjectura, o tradutor, escritor e linguista Marcos Bagno, explica haver uma confusão comum entre língua e gramática normativa, pois, esta representaria apenas uma descrição parcial daquela, não sendo, de fato, o cerne da comunicação. Assim, o conhecimento da norma padrão da língua não se relaciona, diretamente, à linguagem, não devendo, então, ser combustível para ações intolerantes.       Do mesmo modo, a dificuldade em aceitar e compreender as variantes linguísticas expõe a estrutura estigmatizada dos valores da sociedade, pautados, sobretudo, na intolerância e segregação. Nesse contexto, o modernismo como movimento literário chocou os letrados da época ao publicas obras com uma linguagem mais próxima do povo, menos rebuscada, contrastando, por exemplo, com os parnasianos do século XIX. Isso significou, ainda que de maneira embrionária, o início da democratização da produção literária, visto que o linguajar dos textos se tornara mais compreensível para as massas.     Evidenciam-se, portanto, consequências prejudiciais decorrentes do preconceito linguístico. Para reverter isso, o Ministério da Educação deve, por meio de materiais didáticos específicos e oficinas de leitura de textos regionais diversos, trabalhar nas escolas a importância das variedades da língua na construção da identidade cultural do país, a fim de estimular a aceitação e o respeito nos indivíduos, desde a infância. A mídia, por sua vez, tem o papel de veicular publicidades, novelas e campanhas que tratem da variação linguística como um aspecto patrimonial, com o fito de ampliar o alcance desse debate. Espera-se, com tudo isso, que a discriminação pela língua comece, enfim, a ser descontruída do ideário social brasileiro.