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Enviada em: 16/08/2018
A língua portuguesa, transformada por todo tipo de povo que chegou as terras brasileiras, foi separada por sua pronúncia e vocabulário em correto e incorreto, e esconde perversamente que o modo de fala de cada pessoa tornou-se um instrumento de divisão social. No conto "O Conêgo ou a Metafísica do estilo", Machado de Assis reflete sobre elementos da composição das palavras. Certamente, não pensou que as palavras além de sexo, tem embutida a classe econômica do emissor. Há dois tipos primordiais de discriminação: uso da norma culta e regionalismos. O preconceito linguístico em relação a normal culta é percebido em redes sociais por exemplo. Sabe-se que pessoas de pouca instrução, maioria dos brasileiros, tem maior dificuldade de pronuncia de acordo com a norma culta. Recentemente em São Paulo, um médico fez chacota de seu paciente por não saber pronunciar "Pneumonia" e expôs o erro do homem de origem humilde em redes sociais. Apesar do caso ter sido um destaque, nada mais é que o cotidiano. Além disso, há a rejeição de regionalismos, com exemplos famosos como a divisão de caipira/morador de cidade grande, expresso no personagem Chico Bento com seu primo de área urbana, que acha graça do sotaque de Chico. Outro caso é o de regiões brasileiras, notoriamente o preconceito com o modo de fala dos moradores do norte e nordeste do país, terra de ilustres na literatura, mas hoje renegada e visto como um dialeto inferior, acompanhados quase sempre de casos de xenofobia. Por isso, exige-se uma reflexão da sociedade em não inferir juízos de valores na fala e vocabulário, produto único de culturas distintas. O governo necessita avançar fortemente no ensino da variação linguística desde cedo, ensinando em livros as diversas maneiras de se falar, sotaques e regionalismos, agregando um conhecimento único aos alunos, fortalecendo um senso crítico para evitar o preconceito, afinal, se o Cônego de Machado vivesse no século XXI, poderia falar que as palavras também tem conta bancária e "pedigree".