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Enviada em: 18/08/2018

No célebre poema "pronominais", Oswald de Andrade ao preconizar o ideal da geração Modernista de priorizar os "falares do povo", já levanta a questão das regras gramaticais valerem ou não ao contexto espontâneo da fala. No entanto, hodiernamente, a problemática relacionada ao preconceito linguístico, seja pela herança histórico-cultural, seja pelo prestígio social converge para uma sociedade que delimita de forma excludente a exuberância cultural do país. Diante dessa perspectiva, cabe avaliar os fatores que favorecem essa inadmissível realidade.        Em primeiro plano, deve-se considerar a herança sociocultural como impulsionadora do preconceito linguístico, tendo em vista que priorizou somente uma língua padrão oficial. A esse respeito, conforme afirmava o sociólogo Pierre Bourdieu, a sociedade incorpora, naturaliza e reproduz modelos e padrões impostos a sua realidade. De fato, o constructo Estatal ao considerar a gramática normativa e suas regras como base para o sustento do idioma, imposta como indubitável no ambiente educacional, permite que o corpo social naturalize tal modo como o único correto, corroborando para que outras variantes (regionais e sociais) sofram preconceito. Contudo, é contraditório que o preconceito linguístico se mantenha mesmo em uma sociedade formada pela diversidade.             De outra parte, é factível que a ligação indissolúvel entre a língua falada e a gramática normativa esteja entre os obstáculos para a aceitação do caráter multilíngue do Brasil. Nessa perspectiva, os meios midiáticos -diferentemente dos autores da primeira fase Modernista de 1922- abordam certas falas que não estão de acordo com a norma padrão de maneira pejorativa e cômica, a exemplo, o falar nordestino, ao passo que enaltece o falar mais rebuscado do centro do país. Dessa forma, tais atitudes linguísticas hierarquizantes repercutem em um "prestígio social" da língua tida como padrão, distante da realidade social dos brasileiros, o que vai de encontro à verdadeira função do idioma: estabelecer uma comunicação sem ruídos entre os falantes.           Logo, a execução de mecanismos que flexibilizem o reconhecimento da heterogeneidade linguística do país torna-se imprescindível. Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, fica a cargo das Instituições Educacionais de Ensino Fundamental e Médio introduzir, por meio das aulas de literatura, debates e diálogos acerca das diversas formas de comunicação dos brasileiros, utilizando, a exemplo, os escritores Modernistas, a fim de incentivar o olhar crítico do aluno, para que o mesmo reproduza tal pensamento no seu ambiente familiar. Assim, poder-se-á transformar o Brasil desenvolvido socialmente, de modo a valorizar seus diversos "Brasis", e que Oswald de Andrade e outros indivíduos que valorizem a exuberância cultural  da nação pudessem se orgulhar.