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Enviada em: 21/08/2018

No poema "Vício na fala", do modernista Oswald de Andrade, vê-se a defesa da linguagem popular. Para esse poeta, a falta de domínio da norma padrão da língua portuguesa não pode anular a contribuição social dos indivíduos sem escolaridade. Nesse prisma, cabe analisar os aaspe tos culturais quem permeiam essa questão no Brasil.    Antes de tudo, nota-se que a criação e manutenção dos estereótipos têm limitado a atuação social dos indivíduos analfabetos ou com pouca escolaridade. A estigmatização desses deve-se à visão preconceituosa de que todos são seres intelectualmente inferiores, incapazes de aprender a se comunicar por meio de uma gramática. Sabe-se, assim, que a gramática internalizada- aquela que rege toda a comunicação dos indivíduos independente de experiências escolares- é desconsiderada. Pontua-se, porém, que esse processo de estereotipação, teorizado pelo escritor Walter Lippmann, não pode ser visto como algo neutro, já que objetiva a defesa de interesses dos grupos dominantes, acentuando, com isso, a exclusão daqueles.    Também, observa-se que falta engajamento coletivo para se alcançar, de fato, uma sociedade que respeite a diversidade linguística, o que compromete o direito à cidadania. Prova disso pode ser a ausência de mobilização social a favor de ações afirmativas em defesa da linguagem popular. Logo, recorrendo aos estudos do sociólogo Zygmunt Baumann para explicar esse fenômeno, é possível apontar a influência do pessimismo que se instalou sobre as pessoas a partir da Modernidade. Isso porque, não acreditando mais em sociedades perfeitas, os indivíduos passaram a aceitar quadros sociais negativos.   Ressalta-se, portanto, que o preconceito linguístico deve ser combatido. Para isso, é necessário estimular, por meio da escola, uma educação crítica pautada no respeito à diversidade do idioma. Ainda, é importante sensibilizar a população, via campanhas midiáticas, sobre a necessidade de dissolver os preconceitos contra a gramática internalizada. Além disso, deve haver o estímulo da população, mediante ações não governamentais, a fim de que se adote uma postura mais ativa em prol da cidadania de todos os brasileiros, independente da escolaridade. Desse modo, a defesa da linguagem do povo não ficaria restrita à poesia modernista.