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Enviada em: 23/08/2018

"A natureza fez o homem feliz e bom, mas a sociedade deprava-o e torna-o miserável". A citação do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau explicita com exatidão a questão do preconceito linguístico no Brasil, visto que muitos, por possuírem alto nível de escolaridade, se veem em uma posição de poder mediante indivíduos que não finalizaram seus estudos. Tal problemática é ainda mais agravada quando se leva em consideração a negligência das escolas e do Poder Público no que concerne a sua resolução, tornando impreterível, portanto, a tomada de medidas para seu combate.   Em primeiro plano, a dignidade da pessoa humana é um preceito assegurado pela Constituição de 1988 e constantemente infringido em território brasileiro em meio aos casos de preconceito linguístico. As escolas, preocupadas com o ensino da gramática normativa a seus estudantes, não ponderam quão igualmente imprescindível é o ensino à tolerância, a fim de que o jovem compreenda que, embora esteja em um ambiente de aprendizado, muitos indivíduos não tiveram acesso a essas mesmas condições de ensino, não podendo, dessa forma, ser subjugados pelo seu modo de falar.    Outrossim, a omissão estatal no que tange ao combate dessa questão também é indubitável: o Estado é negligente e não mede esforços para combater o preconceito linguístico, o que leva à perpetuação das ofensas e impunidade dos infratores. Em um contexto de colonização brasileira que envolveu inúmeros segmentos sociais e viabilizou a versatilidade da língua portuguesa, é inadmissível que, além da ocorrência incessante de tais agressões verbais, também haja tamanha displicência do Poder Público para punir os agressores e proteger as vítimas incompreendidas por seu corpo social. Este, por sua vez, não depreende que o conceito de "correto" perpassa além do previsto pela norma-padrão e engloba toda a compreensão de que a linguagem de um indivíduo já se adequa ao ambiente em que está inserido.   Mediante o supracitado, fica clara a imprescindibilidade de uma parceria intergovernamental que busque amenizar os impasses apresentados. Preliminarmente, o Ministério da Educação deve promover debates com professores de Língua Portuguesa nas escolas acerca da importância do respeito à forma de falar de outrem, independentemente de como ela se caracterize, a fim de gerar reflexão e mudança de comportamento dos jovens. Ademais, cabe ao Poder Legislativo elaborar uma emenda constitucional que manifeste repúdio ao preconceito linguístico, sob pena prisional em caso de sua ocorrência, com o intento de assegurar que autores desse delito sejam devidamente punidos. Assim, os casos de preconceito linguístico reduzirão, o que, por fim, provará que a citação de Jean-Jacques Rousseau não se aplica de modo absoluto à realidade brasileira.