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Enviada em: 27/08/2018

“A língua de que usam por toda a costa, carece de três letras, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm fé, nem lei, nem rei.” Foi dessa maneira que o cronista brasileiro Pedro de Magalhães descreveu os índios segundo a visão do colonizador português. Observa-se que ali, já se desenvolvera o preconceito linguístico contra os habitantes dessa terra, o qual perdura até hoje, devido à inserção de uma língua dita como culta em detrimento da exuberância cultural do país.       Nesse contexto, a linguagem eurocêntrica herdada foi impulsionada pelos jesuítas, e se transformou na língua oficial do país, a qual se propagou pelo sistema educacional. No entanto, a coerção escolar para seguir às riscas a norma culta faz deste objeto um motivo de discriminação e implica a efetividade da educação igualitária e humanizada. Assim como defendido pelo linguista Marcos Bagno, o qual acredita que o atual modelo de ensino e a dinâmica de muitos professores tem instrumentado o preconceito. Não é que a norma culta não deva ser ensinada, mas deve ser aplicada em conjunto com as diversidades da língua, salientando a sua importância para a sociedade.       Além disso, os meios de comunicação também inferem poderes sobre a linguagem de seu povo. Basta rememorar seus episódios de repulsa pelos pronunciamentos do ex-presidente Lula, o qual recebia críticas por argumentar sem concordâncias entre os termos na fala. Esse aspecto não define a conduta ideológica de nenhum ser humano. Assim como o poeta nordestino, Patativa de Assaré, que promove uma denúncia rica acerca da realidade brasileira, mesmo com um vocabulário distinto da norma culta. Nesse sentido, o autor Guimarães Rosa, em Sagarana, marcou uma revolução pela criação de neologismos e pelo uso da linguagem do sertão. Tal exemplo revela a riqueza cultural das línguas e abre um caminho para combater o preconceito em questão.        Por tudo isso, vale ressaltar que existiram sim F, L, e R na língua dos indígenas, pois havia força, luta e reconhecimento entre as tribos. Reconhecimento esse que se faz urgente na sociedade brasileira. Assim, cabe ao Ministério da Educação basear-se nos princípios de Paulo Freire, com uma educação alicerçada na práxis e na humanização, a partir da inserção de disciplina que verse sobre a variedade linguística do país e sua importância, a fim de formar cidadãos éticos que entendam as diversidades da nação. Além disso, cabe aos sistemas de comunicação quebrarem o preconceito em seus meios, através da aceitação cultural da língua, de forma a divulgar em seus veículos, trechos de obras literárias como a de Guimarães Rosa, mostrando à população a riqueza dessas variantes. Com essas medidas poder-se-á obter uma nação miscigenada intelectualmente e culturalmente.