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Enviada em: 28/08/2018

No absolutismo, aristocratas europeus falavam preferencialmente o francês, enquanto o terceiro estado usava o vernáculo e as camadas mais pobres utilizavam dialetos locais, jargões e gírias quase incompreensíveis para as pessoas consideradas cultas. Hoje, no Brasil, a diversidade do português também salienta a desigualdade social, além das diferenças regionais. Isso corrobora para a exclusão de certos grupos e a perpetração do preconceito linguístico. Dessa maneira, tal problema é subsequente do esteriótipo midiático e da procrastinação do ensino público em tratá-lo.     O escritor Guimarães Rosa, em seu livro "Grande sertão: veredas", trouxe a questão do regionalismo: "É o diabo na rua, no mei do redemunho". É importante saber que, nessa obra, o autor trabalhava esse modo de falar de maneira positiva, sem dar vazão a um olhar discriminatório. Em contrapartida, muitas novelas ao tematizarem o nordeste, por exemplo, colocam atores de outras regiões e acabam por vilipendiar o sotaque, mesmo que não seja a intenção. A consequência é a estigmatização da linguagem popular, preterindo-a em relação à norma culta.   O movimento Modernista, décadas atrás, já fazia reflexões sobre o assunto como no poema "Pronominais" de Oswald de Andrade: "Dê-me um cigarro diz a gramática...deixa disso camarada, me dá um cigarro". Pode-se considerar o trecho desse poema uma crítica ao sistema de ensino, o qual insiste em apenas ensinar o que é considerado certo pela gramática , sem o aprofundamento das variações dialéticas que são usadas no cotidiano. Essas variações são desinentes da dissimilitude social inerente a nossa sociedade, ocasionando a discriminação com pessoas de baixa escolaridade.       Embora respeitar-se enquanto indivíduo esteja mais próximo de um conhecimento tácito, a escola peca ao não dar o tipo de vivência necessário mais cedo. Muitas vezes, apenas no ensino médio o problema é estudado e debatido, que é quando a personalidade do indivíduo já está praticamente formada e, por isso, dificulta tratar preconceitos já arraigados.     É evidente, portanto, que a mudança ocorra a partir de uma nova abordagem da mídia e da reorganização da educação. As emissoras de TV devem, ao retratar uma determinada região em ficções, dar prioridade a atores natais dela, com o objetivo de evitar a ridicularização do modo de falar. Ademais, o MEC pode propor um novo modelo de alfabetização, o qual ocorrerá, primeiramente, com a capacitação de professores do ensino básico. A partir disso, as crianças, desde seu alfabetizado crescerão entendendo a diversidade da língua e a importância de respeitar essas diferenças. Assim, a longo prazo, a sociedade terá mais consciência de sua responsabilidade como agente moral e, como consequência, não permitirá a perpetuação do preconceito linguístico.