Materiais:
Enviada em: 31/08/2018

"Dê-me um cigarro, diz a gramática, (...) mas o bom negro e o bom branco da nação brasileira dizem todos os dias: deixa disso, camarada. Me dá um cigarro." Tal trecho do poema "Pronominais" de Oswald de Andrade, retrata o caráter volátil da língua, a qual apresenta inúmeras variações. Entretanto, ocorre no Brasil, muitas vezes, o preconceito linguístico, que consiste no julgamento depreciativo e desrespeitoso da fala que esteja fora da gramática normativa e/ou com particularidades. Isso porque, não raro, há o sentimento de superioridade de certos grupos, desprezo pelo considerado diferente, entre outros motivos.     Em primeiro lugar, historicamente, o maior conhecimento da linguagem é caracterizado como uma forma de poder, à exemplo da era dos Sofistas, na Grécia Antiga. Essa situação ocorre pelo sentimento e comportamento de soberania dos grupos vistos como mais favorecidos, econômica e socialmente. Dessa forma, na maioria das vezes, os falantes da norma culta são aqueles que apresentam maior nível de escolaridade e poder aquisitivo, haja vista que a educação qualificada ainda é privilégio de poucos no país. Portanto, uma parcela de brasileiros permanece à margem do domínio da norma culta, e, diversas vezes, sofre represálias e humilhações graças a isso.     Ainda convém ressaltar que a vasta extensão territorial e o multiculturalismo presentes no Brasil corroboram a existência de inúmeras variantes da Língua Portuguesa, desde o chiado do sotaque carioca ao "r" mais acentuado nas regiões interioranas, oriundos dos diferentes contextos regionais e históricos. Contudo, esse cenário de diversidade torna-se, erroneamente, motivo de chacota para muitos ao terem contato com as particularidades existentes. Ademais, distúrbios articulatórios, como o rotacismo- troca do "r" pelo "l"- são frequentes no país, e, não raro, também são motivos de discriminação.     Dessa maneira, é imprescindível que o preconceito linguístico seja combatido no Brasil. A fim de que isso ocorra, é necessário que o governo, em conjunto com o Ministério da Educação, disponibilize, por intermédio da diminuição de gastos em áreas de menor urgência, mais verbas para a educação pública, visando gerar educação de qualidade e mais abrangente. Além disso, é preciso que as escolas de toda a nação apresentem, desde as fases mais tenras, aulas direcionadas, palestras e feiras com o intuito de incitar a tolerância linguística, junto com o apoio familiar, o qual deve ocorrer, através de, por exemplo, diálogos instrutivos e cotidianos. Afinal, nenhum cidadão deveria ser vítima de preconceito, como consta na Carta Magna, seja ele qual for.