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Enviada em: 01/09/2018

No livro "Triste Fim de Policarpo Quaresma", de Lima Barreto, o personagem defende, veementemente, o tupi como a genuína língua nacional e despreza o passado histórico da miscigenação de idiomas e dialetos para a formação da língua portuguesa no Brasil. De modo semelhante, muitos grupos sofrem, atualmente, a imposição de um único linguajar como correto e oficial, caracterizando uma exclusão que reflete o preconceito contra a história do indivíduo, haja vista que o idioma é um fator identitário. Logo, trata-se de um problema social com consequências degradantes.      Deve-se pontuar de início, que no livro "Preconceito Linguístico", Marcos Bagno ressalta que durante a formação educacional do jovem a própria escola tenta impor a norma linguística como se ela fosse, de fato, a única língua comum a todos as pessoas. Assim, as variantes da fala são depreciadas, pois os fatores que influenciam na sua construção, como o aspecto sociocultural, o contexto histórico e a origem geográfica são desconsideradas. Como resultado, o indivíduo não é tratado em sua totalidade, podendo sentir-se menosprezado, tanto como cidadão, quanto como falante.      Vale ressaltar, também, que desde a Grécia antiga os sofistas utilizavam a língua como forma de supremacia frente aos grupos menos favorecidos. De modo análogo, à gramática normativa, muitas vezes, é empregada pelos brasileiros como forma de desqualificar e ridicularizar outras variantes. Esse comportamento excludente pode ser percebido, por exemplo, por meio de afirmações pejorativas em relação a fala de quem mora no interior, frequentemente taxado de caipira, como se fosse incapaz de estabelecer a civilização. Dessa forma, há um aumento da intolerância a diversidade, além da elevação da segregação, fatores que dificultam a harmonia coletiva e a sociabilidade do falante.      Portanto, para reduzir o preconceito linguístico é imprescindível que ele seja combatido por meio da conscientização. Para tanto, é necessário que, desde a infância, o aluno seja motivado pela escola a respeitar a diversidade cultural, a fim de não tratar outras variantes linguísticas como inferiores, visando a equidade. Dessa maneira, esse assunto deve ser introduzido por intermédio de aulas interdisciplinares. Destarte, a disciplina de português deve abordar o tema demonstrando as marcas de oralidade, os níveis de registro e as formas de neologismos de cada região. Em conformidade, a matéria de sociologia precisa apontar os registros de fala típicos de um grupo, de uma faixa etária, do nível social e da escolaridade. Atrelado a isso, a aula de matemática irá elucidar os gráficos oriundos de pesquisas sobre o assunto. Tais medidas poderão valorizar a pluralidade da linguagem presente no país e, quem sabe assim, torná-lo mais democrático.