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Enviada em: 06/09/2018

"Não troco meu 'oxente' pelo 'ok' de ninguém. A afirmação do romancista Ariano Suassuna sintetiza a ideia de discurso como símbolo de pertencimento. No entanto, o preconceito linguístico é um problema vigente na sociedade brasileira e resulta da errônea tentativa de unificar a língua nacional e da discriminação sofrida por indivíduos que fogem à tal unificação.     A princípio, é necessário reconhecer que a língua se transforma em razão do local na qual se encontra. Tangente a isso, considerando que o Brasil está entre os cinco maiores e mais populosos países do mundo, é um equívoco esperar que a língua falada em todo o território apresente unidade. Segundo o IBGE, mais de 270 dialetos estão presentes no país. Ademais, a interiorização e a imigração presente em todas as regiões do mapa, acrescentam mais pluralidade à Língua Portuguesa. Apesar disso, muito pouco se apresenta sobre variação linguística nas escolas e a mídia, nas poucas vezes que contempla esse fator, o carrega de esteriótipos e pré conceitos. Como resultado, tem-se um povo que não reconhece e não valoriza sua diversidade.     Outrossim, a discriminação contribui com essa problemática. Nesse sentido, é desconsiderado que o valor de um discurso obedece à sua finalidade e que, por exemplo, diferentemente de um jurista que precisa utilizar a norma padrão para se comunicar, para um vendedor de picolé cuja finalidade é conquistar o consumidor, de nada interessam as mesóclises. Entretanto, constantemente os indivíduos são constrangidos em razão de sua fala, como aconteceu no caso que veio à mídia, em 2016, no qual um cidadão foi alvo de piadas de um médico, pela forma como comunicou sua condição. Tal situação vai de encontro ao sociolinguista Marcos Bagno que,em seu livro 'Preconceito Linguístico' afirmou que ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou respirar.     Torna-se evidente, portanto, que medidas devem ser tomadas para combater o assédio linguístico no Brasil. Considerando a educação como primeiro e mais essencial passo para a mudança, o MEC, em parceria com as escolas e profissionais especializados, como professores e sociolinguistas, deve implementar um programa educativo sobre tal assunto na grade curricular básica através um estudo aprofundado sobre as variações da língua portuguesa e a importância de respeitar a diversidade. Além disso, o Ministério da comunicação deve adaptar e estender esse programa para as grandes mídias como internet, rádio e televisão, a fim de orientar o público em geral sobre preconceito linguístico e suas consequências. Para que dessa forma, nenhum cidadão sinta-se prejudicado em seu direito de fala, que é um ato de cidadania e humanidade.