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Enviada em: 02/10/2018

Carlos Drummond de Andrade em seu poema "Aula de Português", critica, vertiginosamente, os padrões linguísticos impostos no território nacional. Similarmente, fora do âmbito artístico, essa discussão se faz presente no cotidiano brasileiro, visto que o país é constituído por 26 estados federativos e cada um possui um dialeto que os une. Essa variedade, contudo, é ignorada quando se observa a injunção aplicada à população acerca da normalização da língua. Erroneamente, essa estipulação intolerante reverbera preconceitos nas esferas econômica e social no tocante aos indivíduos que se afastam dessa determinação, potencializando a marginalização desses.    Em primeiro plano, é importante ressaltar que a discriminação no tangente à linguagem é uma herdade do Período Colonial. Os portugueses, ao adentrarem a região, impuseram, plenamente, seus costumes às pessoas que, previamente, residiam no local, obrigando-nas a deixar para trás o modo como se expressavam. Analogamente, na hodiernidade, esse imperativo permanece vigente e  corrobora à exclusão de habitantes, os quais não se adequam à padronização da língua. Além disso, é irrefragável que a existência dessa regra potencializa o imaginário popular de que alguns povos são superiores à outros. Nesse sentido, de acordo com o escritor Marcos Bagno - defensor da variante linguística -, o falar se tornou um mecanismo de poder e controle que, sobretudo, privilegia as classes dominantes. Diante disso, impreterível que esse ideário anteferidor seja postergado.   Em segundo plano, é salutar elucidar o papel da escola na formação individual. Indubitavelmente, cabe às instituições de ensino explicar aos alunos sobre a gramática, entretanto, essa não pode se tornar a primazia, configurando a temática da diversidade linguística como exígua. Em contrapartida, a conjuntura educacional, que deveria ser o pilar de integração, cria uma barreira que permite a segregação. É tácito que a norma culta seja ensinada, contudo, a padronização não pode servir como um meio de restrição social. Nesse contexto, equitativamente aos ideais defendidos por Michel Foucault, é crucial desvincularmo-nos de construções vetustas irrepresentativas.   Fica claro, portanto, que o Brasil é um país culturalmente diversificado e, por essa razão, é indispensável que esse promova a inserção das diferentes vertentes nas esferas econômica e social. Consoante a isso, é preciso que a escola deixe de priorizar unicamente a variante comum aos grupos dominantes e, dessa maneira, seja um local de inclusão. Para que isso seja feito, cabe ao Ministério da Educação modificar a grade curricular vigente, instituindo uma nova que seja condescendente ao contingente demográfico, a fim de atenuar os preconceitos existentes. Assim, uma vez que as medidas sejam aplicadas, a sociedade desfrutará de representatividade e tolerância ao se expressar.