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Enviada em: 28/06/2017

A sustentabilidade da linguagem         O Brasil apresenta-se com enormes dimensões e biodiversidade, composto de uma infinidade de espécies representativas de nossa fauna e flora. O mesmo podemos afirmar do gigantismo de nossa multiculturalidade, na qual as variantes linguísticas simbolizam e agregam valor à cultura e à identidade dos diferentes grupos regionais. Infelizmente, a orientação tradicional de ensino e a influência da mídia, dispersora dos ideais da Indústria Cultural, vão contra toda esta riqueza.        Graciliano Ramos, embora tenha escrito Vidas Secas em terceira pessoa, oferece livre escolha a Fabiano expressar-se de maneira regional. A riqueza adaptativa da linguagem está ligada diretamente aos detalhes da fala do sertanejo, e da rispidez com que narrador e personagem misturam-se no desenrolar da obra. A educação unidirecional escolar, no entanto, dá ênfase ao rigor da linguagem formal e pouca importância ao conteúdo da informação e a capacidade argumentativa do aluno, censurando precocemente a fala e, portanto, a deliberação em conjunto; Habermas, desta maneira, mantém-se repleto de razão.        Ademais, dificilmente vislumbramos a mídia Industrial-Cultural elaborando artigos que questionam a própria linguagem ou abrem espaço para a divulgação do código das minorias. Caiçaras, Extrativistas, Faxinalenses, Indígenas e Geraizeiros, entre tantos outros, têm muito o que ensinar, a partir de suas próprias palavras. A segregação linguística é uma forma extremamente torpe e eficaz de dominação.           De acordo com o observado, é de extrema importância revertermos este panorama. A escola possui fundamental importância na promoção da cidadania, neste caso sendo representada pela conscientização e preservação do patrimônio imaterial das comunidades tradicionais, devendo incluir em sua ementa escolar entrevistas e pesquisas de campo à aldeias e comunidades tradicionais, aproximando os alunos às raízes sociais e aos conhecimentos do entorno. O Governo também deve agendar, nas mídias em geral, espaços de divulgação da riqueza e diversidade linguística brasileiras, conscientizando também o público em relação às ameaças e arbitrariedades infligidas ao livramento da fala. Parafraseando Paulo Freire, nos educamos e nos libertamos em comunhão, mas sempre através do poderoso instrumento da mensagem.