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Enviada em: 17/10/2017

Preconceito que cala      ''A língua é um dialeto com exército e marinha''. A conhecida frase do sociolinguista russo Max Weinreich deixa claro a relação de cautela que uma nação precisa adotar com as questões pertinentes à língua. Hoje, são faladas mais de 200 línguas no Brasil. Dessa maneira, é fundamental entender o modo como o preconceito linguístico pode contribuir negativamente para a segregação social do país.   É fundamental destacar, de início, que a intolerância linguística na sociedade é derivada particularmente de normas escolares e da busca de uma língua como identidade nacional. Isso acontece em razão das antigas escolas totalitárias que, muitas vezes, obrigavam os alunos à esquecerem o próprio dialeto e aprender um novo, de modo que qualquer protesto fora dessa norma era visto como um erro. Além disso, durante anos, para obter a tão desejada unidade nacional, muitas línguas foram caladas com o extermínio de povos. Prova disso é a colonização americana construída sobre milhares de cadáveres de indígenas, que já estavam no continente quando os europeus invadiram suas terras e impuseram seus idiomas.    É importante pontuar, ainda, que outro propagador da discriminação linguística são os meios de comunicação. Isso decorre do fato de estarem vinculados às classes dominantes brasileiras que defendem essa ''língua portuguesa'' que, supostamente estaria ameaçada. Por conta disso, a maioria dos brasileiros que usam uma certa forma linguística diferente desta, estariam errados. Um bom exemplo disso é o deputado federal Tiririca que, durante as campanhas eleitorais, sofreu acusações dos adversários referentes às questões de como um palhaço sem curso superior e que não sabe falar, saberia legislar para o país. Nesse sentido, a mídia agia como uma preservador de um padrão linguístico, possivelmente ameaçado por um candidato à deputado federal na época.     Dessa forma, é possível verificar que o preconceito linguístico influencia de maneira negativa tanto a população brasileira em si como também o Brasil. É preciso que as instituições de ensino, em parceria com a sociedade, permita aos alunos o acesso ao letramento a partir de práticas pedagógicas democratizadoras, recorrendo a matérias didáticas e a atualização dos professores de português, a fim de que as variações linguísticas sejam reconhecidas como prática da cultura nacional para que os estudantes não sejam os perpetuadores dessa discriminação linguística. Ademais, a mídia deve utilizar seu poder transformador para desfazer a repressão e investir em campanhas de conscientização e valorização das línguas variantes. Só assim o Brasil continuará falando inúmeras línguas sem preconceito.