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Enviada em: 19/10/2017

Na Grécia Antiga, povos que não falavam o latim eram denominados bárbaros. Hodiernamente, percebe-se que a visão de etnocentrismo cultural é inerente aos indivíduos e se perpetua nas mais diversas áreas, inclusive na linguagem. Nesse âmbito, o preconceito linguístico se mostra como sério impasse que deve ganhar mais visibilidade e ser combatido na sua base formadora, a escola.        Em primeiro plano, cabe destacar que as instituições de ensino possuem um papel imprescindível no estabelecimento da discriminação das variedades linguísticas. Segundo a Teoria da Tábula Rasa de John Locke, toda visão de mundo do indivíduo é construída através da experiência. Por conseguinte, percebe-se que com o contato, desde a mais tenra idade, com o ensino tradicional da gramática normativa e com a necessidade de aperfeiçoamento da adequação a uma norma dita culta, estigmatiza-se as demais formas de expressão, hierarquizando a língua. Desse modo, tal contato estabelece e perpetua esse problema na atualidade.         Outrossim, a falta de notoriedade dessa discussão na sociedade é catalizadora do preconceito vigente. Nesse sentido, as produções artísticas brasileiras, como filmes e novelas, raramente difundem essa singularidade de um Brasil tão dito miscigenado. E, quando o fazem, a mídia se utiliza das variedades linguísticas apenas como caracterizadoras de personagens estereotipados como por exemplo, associando gírias às falas de bandidos, sotaques nordestinos e rurais a personagens humildes ou falas com erros gramaticais a pessoas de classes mais baixas. Assim, há a reiteração de preconceitos já existentes associados a esses setores que passam a se manifestar também no campo da linguagem.        Infere-se, portanto, que medidas são necessárias para a construção de uma sociedade mais tolerante às diversidades e o papel das escolas e da representatividade são fundamentais. Para isso, urge que o Ministério da Educação promova maior ênfase, nos cursos de graduação de professores, no campo da linguística e que ofereça aos profissionais já atuantes, cursos de capacitação de práticas pedagógicas democratizantes, com o fito de que se transmita aos futuros cidadãos a ideia de adequação ao contexto e não mais de certo e errado. Ademais, a mídia deve mostrar, por meio dos veículos de comunicação em massa, o poliglotismo do português brasileiro e sua importância na construção da identidade nacional, através da ocupação, livre de clichês, de papéis principais nas obras de teledramaturgia por personagens com sotaques diversos. Dessa forma, com o ensino e a introdução de discussão sobre o assunto, o país poderá caminhar lentamente rumo à resolução da problemática.