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Enviada em: 26/03/2018

Segundo o cientista alemão Albert Einstein: "É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito". Posto isso, nota-se que o preconceito linguístico existe no Brasil em razão de o senso comum ter escassa percepção de que a língua é um fenômeno heterogêneo, a qual alberga grande variação e está em mudança contínua. Nesse sentido, a violência simbólica folcloriza a variação regional, demoniza a variação social e tende a interpretar as modificações como sinais de deterioração da língua. Dessa forma, tanto a mídia quanto o processo de ensino da gramática são fatores que potencializam a discriminação linguística.        Sob esse viés, de acordo com o filósofo alemão Max Horkheimer, a mídia tem o poder de manipular os hábitos e os valores morais da população. Nessa perspectiva, percebe-se que os meios de comunicação mantêm um nível doutrinário defensor do português puro e estabelecido a partir das gramáticas tradicionais, demonstrando preconceito com variedades populares e regionais. Isso é perceptível por meio do modo como personagens nordestinos são retratados, em virtude de serem criados para provocar o riso, o escárnio e o deboche por representarem o grotesco, o rústico e o atrasado. Assim, a utilização de figuras estereotipadas com uso do humor reforça a discriminação linguística  e colabora com o aumento da visão de superioridade regional e social.       Vale ressaltar, também, que durante a Primeira Fase Modernista, autores brasileiros, como Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, utilizaram a poesia para valorizar a linguagem coloquial na literatura, em virtude de ser muito empregado, anteriormente, códigos rebuscados que dificultavam a compreensão da massa. Nessa lógica, a gramática normativa ensinada nas instituições de ensino contribui para a prática da exclusão social, em razão de ser dominada por uma pequena elite intelectual. Sendo assim, as escolas brasileiras falham no processo de formação social ao imporem a norma culta aos estudantes, ignorando as particularidades que formam a identidade cultural.       Diante do exposto, cabe ao Ministério da Cultura orientar e instruir as emissoras televisivas e grupos de marketing sobre o preconceito linguístico mascarado nos personagens que representam tipificações regionais e sociais. Isso poderia se concretizar por meio de cursos educativos para os profissionais da área, assim como a veiculação de mensagens de vídeo que retratem a discriminação da língua nos canais de televisão. Com tal medida, espera-se que a massa veja a língua como algo heterogêneo em constante transformação. Por fim, as escolas deveriam desenvolver uma pedagogia que garanta o domínio das práticas socioculturais e das respectivas variedades linguísticas, com a finalidade de criar uma cultura aberta à crítica da intolerância da língua e preparada para combatê-la.