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Enviada em: 02/08/2018

Albert Einstein, o pai da Teoria da Relatividade, costumava dizer que é mais fácil desconstituir um átomo do que um preconceito. Embora o físico alemão tenha nascido no século XIX, infelizmente, essa afirmação continua atual: em pleno século XXI, homossexuais enfrentam preconceitos na doação de sangue. Essa intolerância baseia-se, sobretudo, numa sociedade altamente patriarcal e individualista.     Primeiramente, cumpre destacar o caráter patriarcal – e machista – da sociedade brasileira. Conforme explicado por Gilberto Freyre, no livro “Casa Grande e Senzala”, as origens patriarcais da concepção de família no Brasil remontam ao período colonial. Infelizmente, esse patriarcalismo é ainda hodiernamente presente e está entre as causas da intolerância contra a população LGBT. Esse preconceito manifesta-se inclusive na burocracia estatal. Prova disso é a Portaria 158, de 04 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde, que impede homens que tiveram relações sexuais com outros homens de doar sangue pelo período de um ano.        Além disso, o caráter individualista da sociedade moderna dificulta o exercício da alteridade. No livro “Modernidade Líquida”, o filósofo polonês Zygmunt Bauman define o individualismo como uma das principais características – e o principal conflito – da contemporaneidade. Consequentemente, verifica-se uma enorme incapacidade de se colocar no lugar do outro. Caso a sociedade fosse mais coesa e tratasse os problemas de minorias como problemas coletivos, a doação de sangue, fosse de quem fosse, seria sempre estimulada.        Portanto, tendo em vista mitigar o preconceito enfrentado pelos homossexuais na doação de sangue, é imprescindível que, no curto prazo, o Ministério da Saúde e todos os hemocentros do país revisem suas portarias e normas de regulação interna para excluir qualquer forma de restrição – sem embasamento científico - à doação de sangue de qualquer pessoa. Paralelo a isso, no longo prazo, faz-se necessário que as escolas, especialmente nas aulas de sociologia e filosofia, desenvolvam o conceito de alteridade nos seus alunos. Para que isso seja possível, o Governo Federal deve rever o projeto de reforma da educação e manter a obrigatoriedade dessas duas disciplinas. Ademais, a mídia precisa produzir conteúdo – novelas e minisséries – que abordem a doação de sangue por homossexuais. Por meio dessas ações, contribuir-se-á para que as afirmações de Einstein permaneçam atuais apenas no campo da física.