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Enviada em: 11/10/2018

A epistemologia científica pressupõe a existência de experimentos e evidências a fim de que uma prática de saúde seja prescrita. No entanto, no que tange à doação de sangue por pessoas homossexuais, o prisma científico é negligenciado e substituído pela avaliação de cunho moral. Esse mito tem origem na descoberta, no fim do século XX, do vírus HIV associado a uma parcela da população homoafetiva. Como resultado, hodiernamente, é comum que homossexuais sejam impedidos de doar sangue com base no entendimento arcaico de que este grupo apresenta riscos superiores de contaminação.         De acordo com Albert Einstein, cientista contemporâneo, seria mais fácil desintegrar um átomo do que quebrar um preconceito. Sob tal ótica, a imposição de dificuldades à doação de sangue por homossexuais denuncia a suposta imparcialidade da ciência e sinaliza que as condutas de alguns profissionais de saúde estão embasadas em preconceitos de origem social. Nesse contexto, é indubitável que as instituições aptas a receber doação de sangue dispõem de tecnologia suficiente para o controle de qualidade do material biológico doado. Sendo assim, a recusa em receber sangue proveniente de doador homossexual é injustificada e, dessa forma, priva a população de enfermos do direito inalienável ao tratamento de saúde.         Destarte, espera-se que o comportamento dos profissionais de saúde seja minimamente humanizado com aqueles interessados na doação de sangue. Para tal, é necessário também que esses trabalhadores tenham diretrizes e protocolos oficiais e seguros que organizem o atendimento a esses indivíduos. Conforme o escritor Franz Kafka, a solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. De maneira análoga, a permissão para que homossexuais doem sangue poderia solucionar o vigoroso déficit nos bancos de sangue brasileiros, bem como colaboraria na redução do preconceito contra esse grupo social ao promover sua integração nesse processo.       Torna-se evidente, portanto, que medidas resolutivas são necessárias. Cabe ao Ministério da saúde promover capacitação acadêmica a todos os profissionais que atuam na coleta de sangue para doação. Nesse processo, é fundamental uniformizar o entendimento, com base na ciência, de que o homossexual não apresenta maior risco de contaminação do que um cidadão de outra orientação sexual. Em paralelo, é fundamental que todos os pontos de doação de sangue sejam aparelhados com a tecnologia adequada para controle de qualidade do material doado. Com isso espera-se incluir os homossexuais nesse ato humanitário bem como suprir a crescente demanda por sangue nos estabelecimentos de saúde do Brasil.