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Enviada em: 21/10/2018

Em seu conto “A Causa Secreta”, Machado de Assis, por meio do personagem Fortunato, trata de dois temas universais e atemporais: a falta de empatia e o comportamento sádico. Nesse sentido, ao avaliar o atual cenário de preconceito vivido pelos homossexuais na doação de sangue, percebe-se que tais problemas não se detêm à literatura e estão amplamente presentes no país, embora muito tenha sido conquistado pela parcela LGBT na sociedade. Consonância de estereótipos enraizados, esse cenário traz efeitos críticos para a saúde pública brasileira.        Em primeira análise, é válido ressaltar os principais motivos para a existência de tal intolerância. No início da década de 80, a AIDS surgia como novidade no mundo e o grupo dos homossexuais era visto como “grupo de risco”. Isso porque, na época, os primeiros alvos identificados da doença eram as pessoas as quais mantinham relações sexuais com outras do mesmo sexo. Por conseguinte, sob a premissa de que o HIV era um vírus restrito a tal parcela social, foi estabelecido um preconceito que hoje atinge as doações de sangue, haja vista a falta de entendimento da sociedade, cujo pensamento se restringe ao falso argumento de que, por não possuírem chance de engravidar, os homossexuais não utilizam preservativos e propagam doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)        Sob essa conjectura, é importante considerar ainda os impactos sobre a saúde que tal problema coloca em evidência. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, cerca de 18,9 milhões de litros de sangue são desperdiçados anualmente com a restrição das parcelas homossexual e bissexual, em virtude de serem negadas de fazer testes e, com isso, de doar sangue. Nesse sentido, percebe-se a gravidade do impasse no quesito saúde pública, visto que a falta de bolsas de sangue em hospitais ratifica mortes em leitos por impossibilidade de transfusões sanguíneas. Logo, torna-se imprescindível a quebra de estigmas que afastam a população LGBT da sociedade, cujo perfil é mais punitivo que amparador.       À luz desse contexto, é imperioso construir caminhos para acabar com o preconceito enfrentado pelos homossexuais na doação de sangue. A princípio, é fundamental que instituições sociais, como ONGs, em parceria com o Ministério da Saúde, promovam, por meio de publicidades, a exemplo de propagandas televisivas e “outdoors”,  a conscientização sobre a importância de doar sangue para a melhoria da saúde do país, com o intuito de fazer com que essa ação seja sempre valorizada, independente da opção sexual do doador. Ademais, é papel do Legislativo a criação de leis, com o propósito de instituir a obrigatoriedade da realização de testes de detecção de DSTs, a fim de que as oportunidades de doação sejam democratizadas.