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Enviada em: 22/03/2019

No fim do século XX, o livro "Ensaios sobre a cegueira", do romancista português José Saramago, faz uma reflexão acerca da cegueira cultural, moral e ética na sociedade. Desse modo, ao analisar que, hodiernamente, o descaso com a preservação do patrimônio histórico cultural brasileiro persiste intrinsecamente ligado à realidade do país, é notório que a concepção ultrapassa as fronteiras da obra, seja pela negligência governamental, seja pela lenta mudança da mentalidade social.       Segundo Aristóteles, em "Ética a Nicômaco", a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos. Entretanto, esse conceito encontra-se deturpado, visto que a falta de inspeção e cuidado para com a infraestrutura dos patrimônios, dificulta a mantença e preservação do bem. Fato esse é ilustrado no incêndio do Museu Nacional, em 2018, o qual já haviam sido identificados fatores de risco, e nada foi feito. Assim, acidentes continuam a acontecer, colocando em risco o acervo cultural do país.              Outrossim, esse fator é corroborado pelo fato de que os cidadãos não são ensinados a valorizar os bens nacionais, o que deveria principiar nas séries iniciais, diminuindo a visibilidade e, consequentemente, os recursos destinados a eles. Logo, patrimônios que fizeram parte da história do país são negligenciados, comprometendo a fonte de informação histórico-cultural da próximas gerações. Portanto, uma mudança nos valores da sociedade é essencial para a conservação da identidade documental.       Infere-se, portanto, que cabe ao Governo, a princípio, criar postos de denúncia online, que permitam que os cidadãos, ao notarem irregularidades na estrutura física e organizacional, também possam ajudar na preservação do patrimônio, informando às autoridades responsáveis. Paralelamente, cabe às Organizações Não-Governamentais distribuírem cartilhas advertindo sobre o uso irregular dos bens culturais, objetivando a proteção do patrimônio, assim como sensibilizar a sociedade a ajudar a resolver esse problema. Desse modo, será possível que a cegueira referenciada por Saramago não seja realidade no presente.