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Enviada em: 25/03/2019

Definida por Soren Kierkegaard como “o ciclo que o indivíduo percorre para chegar ao conhecimento de si próprio”, a cultura está intimamente ligada à identidade de um povo. A relevância de sua preservação, portanto, é uma forma do ser humano compreender a sua própria história. Em “Ensaios sobre a cegueira”, José Saramago analisa os traços da sociedade contemporânea. Mais do que uma crítica aos valores sociais, o romance português expõe o caos provocado por uma cegueira moral, ética e cultural. Na atualidade, o descaso com a conservação do patrimônio histórico cultural brasileiro permite atestar que a concepção da obra descreve uma realidade vigente, seja pela negligência governamental, seja pela lenta mudança da mentalidade social.    Numa primeira instância, é perceptível um grande descaso no que se refere à segurança e manutenção do bens tombados. Em menos de uma década, o Brasil presenciou a devastação de diversos legados históricos. Em 2018 o incêndio que destruiu a maior parte do acervo do Museu Nacional no Rio de Janeiro sucedeu outros acidentes que atingiram instituições respeitáveis como o Museu da Língua Portuguesa, o Instituto Butantan, o Memorial da América Latina e a Cinemateca. Deficiência orçamentária, infraestrutura precária e equipes de trabalho especializadas com número abaixo do ideal são algumas das explicações usadas para os diferentes acidentes.    Outrossim, é importante avaliar o papel da população brasileira na valorização dos recursos espalhados pelo país. Com o advento da globalização e a integração dos costumes das potências hegemônicas, faz-se necessário que as minorias se imponham na luta pelos seus direitos e a manutenção de sua essência. A cultura de massa, produzida pela indústria capitalista acarreta não somente uma auto-rejeição histórica, mas também o enaltecimento das civilizações de maior ascendência econômica. Assim, observa-se a formação de um povo que rejeita as próprias origens e desconhece o prestígio de acervos extremamente relevantes.     Desta forma, torna-se imprescindível a adoção de políticas mediadoras a fim de contornar essa realidade. A intervenção do Estado em prol da garantia dos direitos culturais e acesso às fontes da identidade nacional se torna concebível a partir da criação de postos de denúncia online. Estes devem permitir que os cidadãos informem as autoridades sobre irregularidades na estrutura física e organizacional do patrimônio. Somado à isto, cabe à mídia fomentar o interesse da população pelo tema por meio de palestras, campanhas de conscientização e propagandas. Destarte, será possível exterminar a cegueira referenciada por Saramago.