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Enviada em: 12/08/2019

Entre outras discussões existenciais que permeiam "A Hora da Estrela", de Clarice Lispector, está a de que o indivíduo, se alienado, torna-se aparentemente mais feliz por não compreender as mazelas do mundo em que vive. Assim, ao analisar a preservação do patrimônio histórico cultural brasileiro, percebe-se que, assim como Macabéa, os cidadãos do país permanecem apáticos frente à deterioração desse. Consonância da falta de memória coletiva e da subversão dos valores, essa realidade exige medidas urgentes.       A princípio, cabe reconhecer, como propulsora desse quadro, a dificuldade de se estabelecer o sentimento de identidade nacional. Decerto, a cultura, caracterizada pelo conjunto de expressões adquiridas historicamente por um povo, manifesta-se na sociedade de maneira espontânea e diversificada, o que leva, no entanto, ao relativo esquecimento de sua gênese. Nesse ínterim, ganha relevância o pensamento de Pierre Bourdieu, o qual afirma que os condicionamentos materiais e simbólicos agem sobre a coletividade e os indivíduos em uma complexa relação de interdependência. Logo, é perceptível o elo entre patrimônios históricos e a construção da identidade de um grupo, e que, caso negligenciados, colocam em xeque a manutenção da solidez cultural edificada.       Sob essa conjectura, a tese marxista disserta acerca da inescrupulosa ação do Estado, que assiste apenas a possibilidade lucrativa. Nesse âmbito, os governantes, guiados pelo capitalismo e pelos subvertidos valores líquidos da modernidade - propostos por Zygmunt Bauman -, priorizam a urbanização em detrimento da preservação de monumentos e de obras históricas. Destarte, com a crescente demanda mercadológica para o crescimento dos centros urbanos, não há destinação adequada de verba ao cuidado de tais símbolos da essência tupiniquim, fator que possibilita tragédias irreparáveis, como ocorreu no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, vítima de incêndio em setembro de 2018.       Urge, portanto, que sociedade e Estado cooperem para solucionar o impasse. Cabe ao Ministério da Educação, primeiramente, a instituição, em escolas públicas e privadas, de momentos dinâmicos de interação e de debate a respeito da memória coletiva brasileira, na presença de historiadores e sociólogos, a fim de instigar a cobrança por melhorias na preservação dos objetos históricos, por meio de ações em redes sociais, por exemplo. Ademais, é papel do Governo direcionar maior parte da verba para a proteção desses locais, enviando, mensalmente, autoridades que possam checar as condições e, caso necessário, que façam reparos visando o alcance de maior longevidade. Desse modo, ao contrário de Macabéa, os brasileiros terão criticidade para preservar o patrimônio histórico do país.