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Enviada em: 03/11/2018

A greve dos caminhoneiros que aconteceu este ano, evidenciou um importante problema nas políticas públicas de mobilidade urbana do Brasil, que são negligenciadas e eufemizadas por medidas paliativas sem reflexo no cenário nacional. Não obstante, em poucos dia paralisação, o país enfrentou o desabastecimento de produtos e medicamentos, a escassez e os altos preços dos combustíveis, bem como o cancelamento de voos e a redução na frota de ônibus. Esse sistema deficitário e polarizado no rodoviarismo, dotado de malhas urbanas ineficientes e precárias, marcado por transportes clandestinos, veículos coletivos superlotados, sucateados e em números insuficientes para atender a crescente população, ameaça a segurança e o conforto dos passageiros. Doravante, para integrar diversos modais de transporte são necessárias ações conjuntas entre as três esferas de poder e a coletividade.       A priori, os processos de periferização e de favelização metropolitana, ocasionados pela especulação imobiliária, afastaram as moradias dos trabalhadores urbanos das regiões centrais e geolocalizadas em confluência com os centros comerciais, no fomento da necessidade por percorrer enormes trajetos para o deslocamento pendular. Esses fatores criaram o conceito de cidades-dormitórios, ofertantes da estadia noturna aos indivíduos que exercem atividades laborais remuneradas em uma região que as polariza, mas impossibilita-os da migração intraregional pelas longas distâncias.       Por conseguinte, o massivo deslocamento desses trabalhadores, em horários específicos, causam congestionamentos quilométricos nas cidades, haja vista que os transportes públicos não possuem sistemas eficientes de integração entre modais distintos, como as bicicletas, os corredores expressos dos BRTs, as linhas ferroviárias e os ônibus convencionais. Nesse sentido, o sistema de afunila-se na incapacidade macro e microcefálica de absorver as demandas públicas e privadas de deslocamento, que estrangulam a logística das grandes empresas de atacado e varejo e elencam períodos dispendiosos no tempo de transporte e no bem-estar dos usuários convencionais.        Em síntese, para mudar a cultura de mobilidade pública é necessário um planejamento contínuo de curto e médio prazo com ações propostas pelos setores governamentais, em coalizão com a sociedade. Isso deve ser feito por meio da cobrança de pedágios urbanos nas áreas de densa circulação comercial, pela implantação do rodízio diário de placas organizado pelas Secretarias Públicas de Transporte e Prefeituras Municipais, bem como pelo incentivo publicitário das caronas entre vizinhos e amigos que moram próximos. Além disso, a posteriori, a cobrança do IPTU e do IPVA das residências e veículos valorizados deve ser convertida, percentualmente, para a ampliação das redes de transportes públicos e para a construção de ciclovias, pois um trânsito melhor depende de toda a população.