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Enviada em: 29/06/2017

Não cabe no poema.             O poema “Não há vagas” produzido em 1963 por Ferreira Gullar salienta que “o preço do feijão não cabe no poema”. Ou seja, questões de extrema importância para a sociedade, como o preço dos alimentos, funcionários públicos e operários, não são abordadas pela arte e muito menos pela mídia. Atualmente, a reforma da previdência tornou-se uma questão como essa, em que, mesmo necessária, o problema não é discutido em prol da população.        O modelo de transição demográfica, criado na década de 1920, mostra que o ritmo de crescimento e envelhecimento populacional está relacionado ao nível de desenvolvimento dos países. Assim, o Brasil está passando por uma fase em que há diminuição de mortalidade e de fecundidade, com aumento do número de idosos e decrescimento da população jovem. Isso faz com que ocorra um déficit na previdência, já que há mais dependentes e menos contribuintes. Ademais, o sistema já sofre um gasto maior que a arrecadação, tendo uma dívida, em 2016, equivalente a 2,4% do PIB. A reforma na instituição se faz necessária.        Porém, a remodelação está sendo feita de maneira prejudicial ao proletário. Com um país de dimensões continentais e altamente diversificado socialmente, generalizações são desiguais. Ao se estabelecer uma idade mínima para se aposentar, nega-se as diferentes idades em que diversos indivíduos iniciaram suas vidas profissionais. Ao igualar as regras para trabalhadores rurais, nega-se as várias diversidades sofridas por esses no campo, em que a renda depende da natureza. Ou seja, as mudanças estão sendo pautadas, porém a população não se inteirou do assunto, principalmente pela falta de interesse da mídia na discussão.        Portanto, obviamente que uma reforma é imprescindível, pois o sistema não se sustenta com as regras atuais. Porém, é necessária uma comunicação entre representantes e cidadãos, com propagandas na mídia sobre as propostas da reforma, plebiscitos para a deliberação dessas e participação de representantes de sindicatos nas reuniões governamentais para sua discussão. Somente assim faremos com que a previdência caiba no poema.