Materiais:
Enviada em: 22/10/2018

Os jogos da exclusão       Os Jogos Olímpicos realizados na cidade do Rio de Janeiro, em 2016, foram marcados por promessas eufóricas de melhorias sociais e ambientais, bem como pela inflação de um orgulho advindo do esportismo, como uma lufada de ar em um Estado sob efeito de graves crises institucionais e financeiras. Todavia, o processo de implantação da infraestrutura específica, de organização administrativa e de planejamento do pré-evento e do posterior legado olímpico elencaram quebras de projetos, superfaturamento das obras, obscuridade orçamentária e irresponsabilidade social dos setores públicos e privados. Doravante, das poucas conquistas efetivadas, como o Museu do Amanhã, o Boulevard Olímpico e o BRT (Bus Rapid Transit), perdeu-se a oportunidade para popularizar a prática de diversas modalidades esportivas em regiões carentes da cidade e, lato sensu, em todo o Brasil.        A priori, as obras de infraestrutura do evento elencaram medidas excludentes, autoritárias e sem diálogo com a sociedade. Segundo dados do Observatório das Metrópoles, mais de 500 famílias que moravam em áreas de interesse do município, como a comunidade Vila Autódromo, foram obrigadas a abandonarem suas casas em detrimento do projeto olímpico. Por conseguinte, esse processo de destruição da Vila foi moldado sob a coerção e a violência do Estado, que se pautou em métodos de higienização social nos entornos das grandes arenas, em semelhança ao histórico processo de urbanização do Rio de Janeiro.       Por conseguinte, algumas estações metrô começaram a ser construídas, mas as obras pararam antes da ocorrência dos jogos, devido suspeitas de improbidade fiscal levantadas pelo do Tribunal de Contas da União (TCU). A posteriori, os gastos subterrâneos e a pouca confluência entre os três níveis de governo e a iniciativa privada, pautados no incipiente estímulo aos investimentos do setor empresarial e do esportivo, transformaram as estruturas do evento no temido elefante branco. Consoante a isso, a promessa de despoluir o sistema lagunar da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, assim como de tratar 80% do esgoto despejado na Baía de Guanabara, não atingiram nem metade da meta.        Em síntese, a popularização de atividades esportivas resulta em melhorias na segurança pública, estimula o turismo e a saúde coletiva, assim como fortalece laços comunitários e a participação civil. A despeito disso, as oportunidades abandonadas evidenciam a incapacidade governamental no planejamento de ações efetivas em prol da sociedade. Portanto, somente quando o Estado organizar-se para o fomento do saneamento básico, da oferta de moradias e de lazer à população, o legado olímpico começará a ser construído; do contrário, o mesmo estará fadado ao fracasso institucional.