Materiais:
Enviada em: 26/07/2018

Constantemente retratada em textos do Romantismo brasileiro como forma de escapismo, a vida boêmia não se restringiu às obras literárias da geração de Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu. Nesse viés, ao considerar-se o consumo exacerbado de álcool e de outras drogas pelos jovens brasileiros, vê-se que o “mal do século” perpassa a literatura oitocentista e atinge a sociedade contemporânea. Assim, torna-se passível de debate a necessidade de controle da conjuntura atual, seja pelos possíveis danos causados por essas substâncias à saúde dos indivíduos, seja pelo descaso que tange essa situação.        A priori, convém ressaltar a relação entre o uso de drogas e a transmissão de doenças. Nesse âmbito, dados do Departamento de Psicobiologia da Universidade de São Paulo comprovam que, quase 20% dos jovens que usam entorpecentes são portadores de doenças transmitidas pelo sangue, como a Hepatite B e a Sífilis; ademais, segundo pesquisas do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 53% dos usuários de drogas injetáveis reutilizam seringas ou compartilham esse material. Dessa maneira, é possível notar a situação de vulnerabilidade à qual esses indivíduos estão expostos, visto que práticas como a utilização de seringas não esterilizadas e o compartilhamento de materiais perfurocortantes contribuem para a difusão dessas mazelas.        Em segunda instância, se por um lado o consumo de álcool e drogas corrobora para a manutenção de situações que prejudicam a ordem social, por outro, a displicência da mídia e do Poder Público colaboram para o aumento do número de usuários. Nesse cenário, insere-se o pensamento do sociólogo Adorno, de que a mídia cria estereótipos que tiram a liberdade de pensamento do indivíduo, de modo a fazê-lo adotar práticas que o enquadrem nesses parâmetros. Desse modo, a influência midiática, bem como a falta de fiscalização da lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas para adolescentes, por parte das autoridades, são determinantes para a sustentação dessa realidade.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem o impasse. Destarte, é preciso que ocorra a adesão de Políticas de Controle de Risco, como a prática aprovada pela Câmara dos Deputados do estado do Rio de Janeiro no ano de 2006, que previa a distribuição de seringas esterilizadas e individuais em áreas onde há grande índice de uso de drogas, como medida de saúde pública, com o fito de reduzir a disseminação de doenças entre os jovens do país. Outrossim, cabe ao Governo fiscalizar e aplicar multas a estabelecimentos que vendam bebidas alcoólicas para menores de idade, a fim de regular o acesso a essas substâncias. Quem sabe, assim, a vida baseada em excessos esteja restrita às obras ultrarromânticas.