Materiais:
Enviada em: 13/09/2019

Ao longo do enredo, o livro "O Senhor das Moscas", por William Golding, narra conflitos de classe como uma das bases do "sistema governamental" criado pelos personagens, os quais devem respeitar o desequilíbrio dos papéis de cada um na ilha. Esse microcosmo criado pelo escritor metaforiza as relações do mundo contemporâneo, nas quais pautas como a alimentação permanecem escravas da desigualdade histórica entre classes. Por isso, a subnutrição e a sua relação com a má distribuição de alimentos deve ser debatida.   A princípio, a grande causa da subnutrição é a deficiente distribuição de alimentos, não a sua produção, sendo necessário o investimento em logística. No cenário brasileiro, por exemplo, o paradoxo celeiro do mundo-população subnutrida é retratado no livro "Uma Breve História do Brasil", pela historiadora Mary del Priore, e discute a contradição de um país que é agroexportador e, ao mesmo tempo, tem taxas elevadas de pobreza e fome. Apesar da alta produção alimentícia, das novas tecnologias ligadas ao campo e à criação de transgênicos que visam a produtividade e diminuição de perda, das novas opções de alimentos criados em laboratório a partir de células-tronco e de dispositivos que melhoram o monitoramento da agricultura, o principal fator que irá combater a subnutrição é uma eficaz distribuição de alimentos, uma vez que o problema está em para quem é entregue e não quanto.   Além disso, a negligência estatal a respeito de programas nutricionais eficientes nas escolas contribui para a má nutrição. O assessor de políticas de nutrição estadunidense Sam Kass discutiu em uma de suas palestras o grande efeito da alimentação das crianças sobre seu desenvolvimento intelectual e, em suma, entende-se que um cardápio escolar mal elaborado é um dos grandes retalhadores da aprendizagem infanto-juvenil. Assim, no cenário de uma população subnutrida, deficiente em políticas públicas que aumentem o acesso a uma boa alimentação, o potencial acadêmico dos jovens é previsivelmente atrofiado, o que eleva as taxas de pobreza e diminui o Índice de Desenvolvimento Humano -- como é comprovado pelas taxas da Unicef: o rendimento escolar é cerca de 40% menor em instituições desprovidas de acompanhamento nutricional.    Portanto, é necessária a ação do Estado sobre a infraestrutura do país, por meio de maiores investimentos em serviços básicos e em recursos destinados aos cardápios escolares, a fim de melhorar a qualidade de vida da população. Ademais, é importante a participação das escolas, por meio da contratação de nutricionistas que elaborem cardápios semanais eficientes -- com, por exemplo, quantidades adequadas de vegetais, carboidratos e proteínas -- para o desenvolvimento cognitivo dos alunos. Dessa forma será possível equilibrar a distribuição de alimentos e combater a subnutrição.