Enviada em: 01/04/2018

A violência urbana é resultado direto do tráfico de drogas...Tal proposição é admitida como verdade científica, indefectível. Um dos pilares da ciência moderna, contudo, é a comprobação, na prática, das postulações proposta pela teoria. Cabe, então, indagar-se se, de fato, a sentença apresentada condiz com a realidade do dia a dia.        Um dos principais parâmetros para análise do nível de violência urbana é a taxa de homicídios. Enquanto no estado de São Paulo – reduto em que há o maior consumo de drogas da federação – esse índice é de 12,2 mortos para cada 100 mil habitantes; os estados de Sergipe e Rio de Janeiro detêm, respectivamente, a cifra aterradora de 58,1 e 30,6. Não há, como se vê, relação simbiótica entre quantidade de mortes violentas e o tráfico de drogas em si. Antes, os dados revelam, isto sim, os desdobramentos que ocorrem pela guerra por poder: Rio de Janeiro e Sergipe caracterizam-se pela existência de facções que se digladiam pelo comando da venda de drogas; em São Paulo, por sua vez, há hegemonia exercida por apenas uma organização criminosa.        Embora os homicídios não resultem diretamente do narcotráfico, mas são um de seus subprodutos, essa situação não pode ser desconsiderada. Ao contrário, pois os vultosos recursos auferidos com tráfico, associado à marginalização de cidadãos dos estratos sociais inferiores, permitem aos traficantes suplantar as autoridades do Estado. Tornando-os, eles próprios, as últimas instâncias de poder em extensas regiões, subjugando a população aos seus desejos: é o feudo moderno à brasileira.        Admitir, portanto, que o comércio de entorpecentes é o principal responsável pela violência nas cidades evidencia uma concepção simplista – e de fácil apelo midiático – deste complexo problema social. Para combater tal problemática, uma das possibilidades seria aumentar a oferta de cursos técnicos integrados ao ensino médio. Possibilitar-se-ia o acesso a empregos melhores, diminuindo a permeabilidade do tráfico de drogas na sociedade e, consequentemente, sua influência.