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Enviada em: 05/08/2018

O sociólogo Pierre Clastres demonstrou, em seu artigo '' O arco e o cesto '', a associação existente entre gênero e função social. No referido, fora analisada, por meio de uma etnografia, as relações sociais dentro da etnia Guaiaqui, focando em um indivíduo que era marginalizado, pois por ser um mal caçador, não era considerado homem, e por não saber trançar uma cesta, não era considerado mulher. Da mesma maneira, a população Trans brasileira está vivendo em um limbo de sofrimento, pois a população civil, carregada de preconceitos, à reprime e o Estado, ineficaz na criação de políticas públicas, à silencia.        Nesse sentido, a sociedade brasileira pode ser considerada conservadora, isso é, inapta para lidar com a diferença. Afinal, muitos grupos minoritários, tais como a própria comunidade LGBT, as mulheres, os indígenas e os negros,  são vítimas diárias do machismo e patriarcalismo estruturais. Tal situação decorre de um passado histórico calcado em dogmatismos inertes. Convém ressaltar a influencia da  herança cultural católica no pensamento brasileiro que, por exemplo, durante a Santa Inquisição, condenou milhares de homossexuais, considerados hereges, à fogueira. Assim, o preconceito fora difundido e naturalizado na sociedade atual, contribuindo para a perversa lógica que  segue relegando os transsexuais à marginalidade e até à morte.        No entanto, o Estado, que segundo a Constituição de 1988, deveria garantir a integridade física e moral de qualquer cidadão, sem discriminações de qualquer ordem, está falhando no que tange à garantia de segurança dos transsexuais. Pois além de não reconhecer enfaticamente a situação de vulnerabilidade dessa população, não está promovendo políticas públicas eficientes que visem a garantia de direitos sociais. Ou seja, o preconceito enraizado da sociedade associado à timidez do Estado condena a vida de muitas pessoas, apenas por manifestarem-se de maneira distinta dos padrões cristalizados historicamente.           Portanto, para que a sociedade brasileira não seja como a dos Guaiaquis, colocando àqueles que não se enquadram em padrões pré-estabelecidos no limbo existencial, sujeitados às diferentes formas de violência, o Estado precisa promover políticas que busquem a aceitação, por parte da sociedade, dos transsexuais. Isso se dará por meio da colaboração do Ministério da Educação, que deverá promover palestras e cursos, abertos para a comunidade, ensinando acerca do imenso escopo de possibilidade que o ser humano pode manifestar. Além disso, a Polícia Federal deve criar um setor específico para investigar crimes de trans fobia e proteger as vítimas. Dessa forma, a transsexualidade poderá ser mais aceita e o Brasil um local menos hostil ao diferente.