Materiais:
Enviada em: 25/08/2017

(Trans)formação necessária       Antes de cristo e depois de cristo. A maneira como a sociedade brasileira se organiza no tempo revela o enraizamento cultural de tradições católicas capazes de ditar comportamentos aceitáveis na sociedade contemporânea. Nesse sentido, apesar da crescente valorização da diversidade, em razão de afrontar condutas sexuais impostas pela moral cristã, a transfobia – aversão a pessoas que se identificam com gênero diverso do biológico – manifesta-se por meio de exclusão, violência física e verbal em face dessa minoria.        Inicialmente, ressalte-se a patologização da sexualidade como potecializadora da exclusão de indivíduos que não se enquadram na definição de homem e mulher heterossexuais. Nesse contexto, apenas em 2012, a Associação Americana de Psiquiatria retirou a disforia de gêneros do seu Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais, mas, perpetuam-se, no Congresso Nacional, projetos legislativos que defendem a suposta “Cura Gay”. Dessa maneira, a despeito da recente mudança, ainda há a percepção dos transgêneros como doentes contagiosos, de modo a alimentar preconceitos que os tornam indesejáveis no mercado de trabalho formal e os marginalizam, levando-os a buscar na prostituição, por exemplo, uma alternativa de sustento.       Ademais, os reiterados casos de discursos de ódio, agressões e assassinatos contra essa minoria reforçam o cenário de desrespeito aos seus Direitos Humanos. Segundo dados da organização não governamental Rede Trans Brasil, a expectativa de vida das mulheres transexuais é de 35 anos, menos da metade da média nacional. Com esse cenário de agressão gratuita, reforça-se a ideia de aversão ao diferente presente nos versos da música "Sampa", do compositor Caetano Veloso, que afirma: "quando te encarei frente a frente e não vi o meu rosto, chamei de mau gosto o que vi". Por conseguinte, pode-se identificar o desconhecimento e falta de habilidade de exercício da empatia como potenciais mantenedores desses comportamentos agressivos.       Por fim, a transfobia se revela no discurso medicalizante e na hostilização do diferente e deve ser contida por meio de políticas públicas inclusivas. Para combater esse quadro, as Polícias Civis dos estados da federação devem criar delegacias específicas para denúncia e processamento de agressões contra pessoas transgênero, como forma de coibir essa prática. Conjuntamente, as Secretarias Municipais de Educação devem inserir sociodramas nas salas de aula, para que, por meio da teatralização, os jovens desenvolvam habilidades empáticas. Talvez, assim, seja possível construir uma sociedade mais plural e transformar mentalidade preconceituosa vigente.