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Enviada em: 23/05/2018

Na Grécia antiga, na mesma linha dos primeiros filósofos, que buscavam uma explicação racional para os fatos, Hipócrates notabilizou-se por rejeitar explicações míticas para as enfermidades. À época, dizia-se que os problemas de saúde eram punições dos deuses às falhas morais dos homens. Hoje, o sábio grego julgaria ser resquício do pensamento supersticioso a posição contrária à utilização do canabidiol (um dos princípios ativos da maconha) como droga medicinal.       Os primeiros estudos rigorosos acerca do valor terapêutico da "Canabis sativa" (nome científico da maconha) datam da primeira metade do século dezenove e foram produzidos pelo médico inglês William Brooke O'Shaughnessy, que aceitara o cargo de assistente cirúrgico da famosa Companhia das Índias Orientais, famosa empresa constituída, no ano de 1600, para negociar com as Índias, região onde a Canabis era largamente usada terapêutica e recreativamente. Brooke interessou-se pela planta e, após experiências, verificou tratar-se de poderoso analgésico e anticonvulsivo. De volta à Inglaterra, Brooke mostrou os resultados de suas pesquisas, que despertaram grande interesse pela substância; com o tempo, porém, ela foi abandonada e até proibida, devido a seus efeitos psicoativos.       Em 2014, uma mulher ganhou, na justiça, o direito de importar a substância para tratar da filha epiléptica, que sofria dezenas de crises convulsivas semanalmente, sem que nenhuma droga então disponível no mercado brasileiro aliviasse o sofrimento da jovem e, consequentemente, dos pais dela. O canabidiol praticamente eliminou o drama da menina, corroborando a tese do doutor Brooke.       Virginia Woolf - romancista, ensaísta, editora inglesa - dizia espantar-se com fato de as doenças não terem, ao lado do amor, um lugar eminente na literatura universal, haja vista a frequência com que impõem sofrimento aos seres humanos. De fato, pesquisa recente dá conta de existirem 8743 enfermidades no mundo. Contrariamente ao emprego do canabidiol para combater algumas delas aponta-se que há o risco de os dependentes químicos se valerem do medicamento para conseguir drogarem-se. Esse raciocínio, cumpre ressaltar, levará a que se proíba a fabricação não só de facas, por serem elas usadas em crimes, senão também de automóveis, por serem guiados por pessoas sem habilitação.             Destarte, o canabidiol deve ser liberado pelos órgãos governamentais competentes, aos quais cabe fiscalizar o uso da substância e aplicar multas severas não só aos revendedores infratores, como também àqueles que forem surpreendidos usando indevidamente a medicação. Deixemos que os sofrimentos de amor continuem sendo o principal tema de poetas e romancistas talentosos.