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Enviada em: 25/08/2018

O filme "O Trote", estreado por Andrew Neel em 2016, retrata a história de Brad Land, um jovem de 19 anos que sofre testes hostis e violentos ao ingressar na universidade. Tal como na ficção, entretanto, percebe-se que, no Brasil contemporâneo, o caráter socializador das instituições escolares é questionado diante da agressividade manifestada, sobretudo, contra o gênero feminino. Nesse sentido, seja devido ao preconceito milenar, seja à impunidade, faz-se necessário inibir tal prática.             Mormente, analisa-se que a brutalidade não é um fator recente no espaço escolar. Sob uma ótica meramente histórica, os chamados trotes universitários surgiram com o fito de maltratar e, no Brasil, iniciaram em 1831 com a morte de um estudante da atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Nessa perspectiva, vê-se que tal recepção foi naturalizada, incorporada e, assim como defende Jean-Jacques Rosseau na teoria do "habitus", propagada até os dias atuais, de maneira a representar um reflexo da cultura de agressividade que permeia a sociedade. Além disso, diante do histórico patriarcal e escravista, as mulheres, as quais já sofrem com os esteriótipos sociais, tornam-se as principais vítimas nas festas universitárias.             Ademais, nota-se ainda que a busca por poder e a impunidade corroboram a problemática. Isso porque há um ciclo de confiabilidade e de concessões o qual, consoante o sociólogo Antonio Ribeiro de Almeida, possibilita a perpetuação de uma hierarquia e da ausência de medidas que condenem tais práticas. Soma-se a isso o fato de que algumas universidades são resistentes quanto a discussão e não adotam medidas mais incisivas, já que não existe uma Legislação específica acerca do tema. Por conseguinte, atitudes criminosas, como estupros, tornaram-se comuns, de forma que a vítima é culpabilizada, na maioria dos casos, por estar no espaço ou por ter ingerido bebidas alcoólicas. Assim, o direito à educação garantido pela Constituição Federal de 1988 torna-se extrínseco à realidade.              Infere-se, portanto, que a agressão ameaça a segurança no ensino superior. Destarte, o Governo, em parceria com o Ministério da Educação, deve criar uma estrutura abrangente de combate aos preconceitos enraizados, por meio de palestras e aulas especiais, ministradas por sociólogos e professores, sobre a importância do respeito aos estudantes novatos, bem como implantar um projeto, no cronograma escolar, de acolhimento e de combate aos abusos, como a "Rede Não Cala!" da Universidade de São Paulo (USP); a fim de inibir o contexto milenar de violência. Outrossim, o Ministério da Justiça deve elaborar leis sobre a temática e investigar crimes praticados nessas festas, a partir da criação de ouvidorias online, as quais permitam a denúncia anônima e a proteção da vítima. Dessa forma, poder-se-á inibir a manutenção de hostilidades como as sofridas por Land.