Materiais:
Enviada em: 06/09/2018

Segundo o livro "Ética a Nicômaco", de Aristóteles, a política serviria para garantir felicidade ao cidadão. Entretanto, percebe-se que quando se trata de violência de gênero nas universidades do Brasil, tal ferramenta tem se mostrado pouco eficaz. Nesse contexto, é notável que o arcabouço machista presente nessas instituições e a relativa descrença quanto a efetividade das ações do Estado têm contribuído para persistência  desse problema.       Em primeira análise, cabe pontuar que o corpo de funcionários nas universidades é majoritariamente masculino e muitas vezes machista. Tal característica torna o ambiente propício a casos de assédio, agressões físicas e/ou verbais e até estupros. Como exemplo, é cabível citar uma situação ocorrida em 2012, na qual um estudante de medicina da Universidade de São Paulo (USP) dopou e abusou duas estudantes. O indivíduo foi denunciado e levado à julgamento, mas a conclusão final do processo não lhe inferiu uma punição ao nível. Após o ocorrido, as vítimas de tal ato passaram a ser mal vistas na unidade de ensino e ignoradas por alguns professores. Esse e muitos casos semelhantes contribuem para revelar a cultura de objetificação da mulher que se construiu nessas unidades.       Não bastasse tal mentalidade retrógrada, o pouco comprometimento governamental aos alunos que sofreram algum tipo de violência nas universidades é alarmante. A quase totalidade dos agressores sai ilesa -mesmo que o Código Penal Brasileiro criminalize amplamente o estupro e outras ações que lesem a integridade de outrem- enquanto as vítimas tentam lidar com danos psicológicos, morais e físicos. Essa situação passa o sentimento de impunidade aos criminosos e estimula, de certa forma, a permanência das agressões que segundo o Instituto Avon já foi cometida por cerca de 40% dos estudantes universitários. E, ainda, mesmo quando há ações por parte do Poder Público, elas são insuficientes, como a convocação da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Trotes (que investigou casos de abuso na USP,), que não surtiu tão positivamente quanto se esperava.       Posto dessa forma, avulta-se a necessidade para se atenuar a problemática aqui tratada. Para reduzir a influência machista no ambiente de ensino superior, cabe aos próprios estudantes com apoio de professores realizarem movimentações internas, na mídia e nas ruas, a fim de ao mostrar aos agressores que o silêncio não prevalecerá. Ademais, compete a Poder Público o papel de garantir maiores investimentos na segurança das universidades, seja com funcionários particulares ou com o auxílio da polícia militar, além de julgar os agressores de maneira mais profissional nos tribunais, para que as vítimas não se sintam intimidadas em delatar e que a política garanta o bem dos cidadãos.