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Enviada em: 20/10/2018

Omissão arquivada            Em 1999, o país ficou sabendo de um calouro da Universidade de São Paulo (USP) que morreu durante um trote na faculdade. A tragédia ressoa até hoje nas notícias quando se fala sobre violência de gênero nas universidades. O crescente número de casos de abuso que se fazem presente nos ambientes de educação superior brasileiro indica como a negligência com o assunto tornou-o um problema crônico em muitas instituições.              Em um primeiro plano, deve-se entender que a violência de gênero é provocada por uma série de problemas já inseridos no ambiente da universidade. Nesse sentido, eventos como o "trote" e os "ritos de passagem" demonstram como as relações de poder formam uma hierarquia dentro da universidade, obrigando o aluno a se submeter a humilhações pelos veteranos para, só então, ser aceito. Porém, se o estudante se opor ao imposto, terá seu desempenho acadêmico prejudicado. Logo, faz-se necessário uma fiscalização dentro da universidade, a fim de coibir os trotes e identificar possíveis abusos de uma classe que se considera "dominante" na instituição, seja ela dos veteranos ou até do corpo docente.            Entretanto, ainda que haja um fim nos "trotes", muitas calouras ainda sofrem violência, chegando ao estupro, em eventos fora da universidade. Segundo dados da Instituição Avon, cerca de 42% das estudantes no Brasil têm medo de frequentar o curso. Outrossim, a insegurança dentro do campus é tão alta que até 36% delas não participa de atividades extracurriculares. Para amenizar tal quadro, a USP oferece comissões de apoio e campanhas de questões de gênero em sua grade, além de serviços de denúncia que, apesar de efetivos, não são muito conhecidos, por isso não possuem semelhantes em quase nenhuma universidade brasileira.           Torna-se evidente, portanto, que o país precisa administrar de forma mais consciente e ativa o problema da violência de gênero dentro do ambiente de ensino superior. Com esse objetivo, além das propostas anteriormente citadas, a criação de um "disque denúncia" específico para o ambiente escolar , em nível nacional, auxiliaria na apreensão de possíveis responsáveis por abusos de poder, sejam professores ou alunos, sendo papel do Ministério da Educação em conjunto com o Ministério da Segurança Pública garantir que as medidas punitivas cabíveis sejam aplicadas aos responsáveis. Além disso, uma fiscalização na direção de cada instituição revelaria como a problemática vem sendo abordada pelos coordenadores, sendo passível de multa e demissão a todos aqueles envolvidos com denúncias dentro da faculdade. Com o ambiente educacional bem estabelecido a reação de mudança de ação em uma sociedade machista certamente será agilizada.