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Enviada em: 09/02/2019

Violência, considerada em seus mais variados aspectos, sempre foi uma realidade próxima e, de certo modo, inerente às relações sociais, principalmente entre gêneros, nas quais existem sutilmente uma nuance de dominação de um sobre outro. Em se tratando especificamente das universidades brasileiras, essa detrimentosa realidade está presente em função, não exclusivamente, das diversas relações de poder e autoridade entre as camadas hierárquicas dentro da instituição. Sendo assim, há, infelizmente, abusos, dos mais diversos tipos, por parte de professores sobre alunas. De outro lado, piorando ainda mais o cenário,o medo de denunciar eventos como esse leva o autor à sensação de intangibilidade, resultando na reverberação do quadro ao longo do tempo.      Nesse contexto, no livro A Filha da Minha Mãe e Eu, cuja autora, Maria Fernanda Guerreiro, narra uma história quase biográfica, é possível perceber, em certo ponto da leitura, a relação opressiva de um professor de literatura sobre Mariana, a filha no dito título, em que ele a obriga a se relacionar, usando como estratégia de convencimento seu poder de reprová-la ou não. Esse cenário criado é, em verdade, a realidade de milhares de jovens universitárias diante do contexto machista no qual se insere um contingente considerável de professores irrazoáveis e, por vezes, hipócritas. Assim, fica evidente o caráter conjuntural associado à esse problema.      Ainda por esse viés, a incapacidade autônoma de denunciar os agressores no exato momento de desrespeito intensifica, paulatinamente, todo o contexto de uma forma exclusivamente negativa. Nessa lógica, analisando-se o Discurso Sobre a Servidão Voluntária de Étienne de La Boétie, filósofo humanista, é possível entender que "a tirania retira do indivíduo a capacidade de falar, agir ou mesmo de pensar" da vítima. Desse modo, percebe-se que o ponto fundamental de perpetração do problema está intimamente ligado a esse mecanismo de dominação psicológica com o qual o agressor incapacita a vítima a reagir, usurpando-a a própria realidade.       Destarte, violência de gênero nas universidades brasileiras é, indiscutivelmente, uma realidade que atinge a sociedade. Por isso, com o fito de minorar o problema ou mesmo extinguí-lo, é necessário, por parte das Reitorias, providenciar a criação de secretarias responsáveis exclusivamente por fiscalizar o cenário dentro da universidade e apoiar, por meio de ouvidorias, as vítimas de violência, além de ajudá-las no processo de denúncia do agressor a fim de que seja dado a ele a devida punição. Com isso, a partir de toda essa iniciativa preventiva, será possível reduzir perceptivelmente o cenário de impunidade, trazendo à tona uma nova realidade na qual o respeito ao próximo possa ser valorizado e o ambiente muito mais aprazível.