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Enviada em: 17/08/2018

Durante o Império Romano, a política de pão e circo incluía eventos de verdadeira crueldade que consistiam na luta corpo a corpo entre gladiadores e animais, que só eram finalizadas quando um dos adversários era levado à morte. Nesses episódios, o público comprazia-se em assistir ao espetáculo de horror. Analogamente, vemos hoje acontecer, nos estádios de futebol, casos de violência explícita motivada por grupos criminosos de torcidas organizadas. Como no Coliseu romano, a violência manifesta-se nos estádios como um tipo de imposição de poder do mais forte. Tais grupos vão aos jogos portando porretes, facas e outros tipos de armas brancas, com o intuito de transformar o que deveria ser um momento de compartilhamento e felicidade em um circo de horrores do século XXI.        A fim de analisar os incidentes de violência nos estádios, é necessário considerar que o impulso por agressividade, já existente no ser humano, é inflamado quando ele se encontra em grupos que incentivam esse tipo de comportamento. Nesse sentido, é válido retomar a perspectiva de Thomas Hobbes, que baseia-se na teoria de que os homens, em estado natural, cedem aos impulsos e estabelecem uma “guerra de todos contra todos”. O teórico político leva em conta os instintos primitivos que possam existir na natureza humana para embasar seu argumento de que um governo mediador é necessário para que a paz seja possível. No caso dos estádios, não é diferente: é indispensável que haja um aparato eficiente de fiscalização, mediação e, se necessário, punição dos indivíduos que promovem a agressividade física nas arquibancadas.        Contudo, a intervenção policial nessas ocorrências mostra-se complexa uma vez que apenas uma pequena parcela dos torcedores envolve-se voluntariamente nas agressões. Dados estatísticos revelam que menos de 10% do público dos estádios levam as rixas entre torcidas aos níveis bárbaros da brutalidade. Por esse motivo, o reconhecimento dos membros realmente criminosos em meio à multidão de pessoas composta majoritariamente por inocentes apreciadores de futebol é o maior desafio. Tendo em vista essa dificuldade, é preciso que sejam estabelecidas medidas mais efetivas de gestão de segurança do público e do espaço.             Assim sendo, o reforço policial faz-se necessário, contudo será ineficaz se não for acompanhado pelo cadastramento dos torcedores, a fim de que os agressores sejam reconhecidos e impedidos de frequentar os jogos como forma de coerção. Tal cadastramento deve ser realizado pelas comissões organizadoras dos jogos, que além de contribuir com o trabalho da polícia, obterão dados sobre o perfil do público frequentador, o que certamente servirá para outras medidas de segurança que sejam necessárias no futuro. Tais ações contribuirão efetivamente para a fiscalização das ocorrências de violência.