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Enviada em: 22/08/2018

Por ser praticado em requintados clubes e pelas elites locais, o futebol foi encarado por Mário de Andrade, em sua obra "Macunaíma", como uma praga que, assim como o bicho-do-café e a lagarta-rosada, infestava o país. Entretanto, apesar de a obra ter sido produzida há quase um século, o pensamento expresso na rapsódia modernista ainda é compartilhado por muitos brasileiros, uma vez que o esporte tem se relacionado a diversos conflitos ocorridos em estádios, seja em decorrência da falta de fiscalização nas arenas, seja pela certeza da impunidade.       Em primeiro lugar, convém-se ressaltar a escassez de recursos de monitoramento nos espaços destinados à prática de esportes. Nesse viés, pesquisas da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) mostram que apenas 43% dos estádios brasileiros contam com mecanismos ou serviços de monitoramento às ações dos torcedores no interior destes. Dessa forma, a falta de agentes policiais e câmeras de vigilância no ambiente corrobora a ocorrência de delitos, visto que a identificação dos conflitos é desfavorecida e, quando efetivada, a contenção dos ataques é dificultada. Assim, tem-se justificado o pensamento Hobbesiano, de que o instinto humano, quando dissociado do poder Estatal, dá origem a uma guerra de todos contra todos.       Em segunda instância, se por um lado a supervisão insuficiente das arenas esportivas estimula as práticas agressivas, por outro, favorece a impunidade dos agressores, de modo a impulsionar ainda mais as práticas provocativas. Nesse âmbito, a não identificação das discussões, bem como o descaso quanto a situação vivenciada nesse meio social, ocasionam a não aplicação de medidas punitivas de maneira satisfatória; prova disso é que, dados obtidos pela EBC indicam que, no ano de 2017, do total de casos de violência registrados em estádios, apenas 3% receberam a punição prevista por lei. Desse modo, fica claro que, apesar de existirem normas que regulamentam essas situações no Código Penal e no Estatuto do Torcedor, a aplicação destas é deficitária.      Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem esse impasse. Sendo assim, cabe ao Ministério da Segurança Pública, em parceria com a iniciativa privada dos times esportivos, criar postos policiais dentro das arenas, contratar profissionais capacitados para lidar com práticas agressivas, além de instalar câmeras e cabines de videomonitoramento nos estádios, a fim de auxiliar a fiscalização do local e prevenir a ocorrência de atos brutais. Outrossim, é função do Poder Judiciário colocar em prática de maneira eficaz as leis punitivas existentes, com o fito reduzir a ocorrência de delitos e a impunidade daqueles que os cometem. Quem sabe, assim, a concepção pessimista do esporte fique restrita aos pensamentos do "herói sem nenhum caráter".